segunda-feira, 31 de março de 2014

Pedimos fogo, mas queremos isso?



Nos últimos anos, o “fogo” de Deus passou a ser o foco de muitos cultos, cânticos e orações nas igrejas e cultos domésticos. A busca pelo sobrenatural é tão grande, que muita gente clama a Deus pedindo para enviar fogo do céu e para ser consumido com as chamas celestiais.


Essa “tara” pelo fogo é algo curioso e ao mesmo tempo bizarro. A falta de entendimento sobre a Palavra de Deus faz as pessoas darem um sentido pitoresco ao “fogo divino”.


Elas acreditam que fogo significa “ser um crente quente”. Com medo de serem mornas e “vomitadas” ou frias, essas pessoas pensam que com o fogo poderão conhecer a verdadeira glória, poderão receber o verdadeiro avivamento, poderão ser salvas.


Nos espetáculos da fé, as pessoas cantam com toda força “incendeia, Senhor a sua noiva, incendeia, Senhor a sua igreja, incendia, Senhor, a sua casa, vem incendiar”. (Incendeia, David Quinlan)


Elas pedem ainda mais: “Caia fogo dos céus. Queima esse altar. Mostra pra esse povo que há Deus em Israel” (Caia fogo, Fernandinho)


“Eu gosto de sentir teu fogo queimando dentro de mim” (Ana Paula Valadão)


A sede pelo “fogo santo” nas canções transforma a pura graça em algo semelhante ao lago de fogo descrito em Apocalipse. E isso está explícito na música: “Eu sou canela de fogo, reteté de jeová, estou nadando no azeite, não consigo parar. Tô envolvido na glória, tô envolvido no manto, estou andando em brasas eu não estou suportando, o rolo está descendo enchendo este lugar, tem labaredas de fogo, em todo, em todo lugar. É labareda de fogo. É fogo santo, fogo puro, é por isso que eu não mudo, Não paro de adorar”. (Canela de Fogo, Flordelis)


Quando penso em fogo, ele me remete a ideia de inferno. Jesus falou bastante de como seria o local onde os não-regenerados seriam enviados. E lá tem o quê? Fogo. Fogo forte, do jeito que essa galera está pedindo por aí.


Na Bíblia, quando lemos algo sobre o fogo podemos ver que ele está quase sempre associado ao juízo de Deus.


E como diz o meu marido: “esse pessoal fica pedindo fogo, mas, quando ver o fogo descer, vai se borrar de medo”.


Então, gente, fogo significa ira, juízo. Vamos buscar a Graça de Deus e vamos parar de “fazer graça” e de inventar modinha.


Para mim, é uma incoerência pedir a Deus para queimar a sua “igreja” enquanto, na verdade, ele quer livrar os seus do fogo eterno.


Talvez possamos aceitar o uso da expressão para pedir a Deus para nos refinar como o ouro, tirando toda a impureza. Mas pedir ao Senhor para nos consumir com seu fogo e mostrar as chamas é desejar que a ira venha sobre nós.


Referências:


O primeiro anjo tocou a sua trombeta, e granizo e fogo misturado com sangue foram lançados sobre a terra. Foi queimado um terço da terra, um terço das árvores e toda a planta verde. Apocalipse 8:7


Sua obra será mostrada, porque o Dia a trará à luz; pois será revelada pelo fogo, que provará a qualidade da obra de cada um. 1 Coríntios 3:13


E lançarão aqueles na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes". Mateus 13:50


Ele traz a pá em sua mão e limpará sua eira, juntando seu trigo no celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga". Mateus 3:12


Pela mesma palavra os céus e a terra que agora existem estão reservados para o fogo, guardados para o dia do juízo e para a destruição dos ímpios. 2 Pedro 3:7


Portanto, já que estamos recebendo um Reino inabalável, sejamos agradecidos e, assim, adoremos a Deus de modo aceitável, com reverência e temor, pois o nosso Deus é fogo consumidor! Hebreus 12:28-29


Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim também acontecerá no fim desta era. Mateus 13:40


Mas tão-somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus. Hebreus 10:27


Então vi outra besta que saía da terra, com dois chifres como cordeiro, mas que falava como dragão. Exercia toda a autoridade da primeira besta, em nome dela, e fazia a terra e seus habitantes adorarem a primeira besta, cujo ferimento mortal havia sido curado. E realizava grandes sinais, chegando a fazer descer fogo do céu à terra, à vista dos homens. Apocalipse 13:11-13


***


Mikaella Campos é jornalista, pesquisadora e blogueira. Colunista do Arte de Chocar e colabora do Púlpito Cristão.



12 comentários:

  1. Concordo e discordo em dois pontos: Concordo no exagero do usado exagerado da palavra "fogo" em hinos e mensagens, tal como foi uma época "chuva". Discordo em relação aos relatos da irmã como fogo significando apenas juízo e condenação. Por exemplo, quando João disse que haveria outro que batizaria, ele disse que esse outro (Jesus) batizaria com Espírito Santo e fogo (Mateus 3:11). Quando Espírito Santo batizou as pessoas no cenáculo, a descrição de Lucas fora a de "línguas repartidas como de fogo (Atos 2:3). O fogo também é utilizado, nestes contextos, como demonstração de poder, revestimento. É óbvio que ambos os casos o fogo é utilizado como "figurativo", mas nos remete não somente à condenação.

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  2. Belo texto amada! Só um detalhe. Infelizmente mesmo no meio mais conservador da Palavra, Mateus 3:12 é interpretado como sendo o fogo do Espírito. Inclusive há pregadores famosos que pensam isso. Mas, particularmente não concordo, pois o contexto é de salvação e condenação no julgamento final.

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  3. Estava exatamente me preparando para escrever sobre esse assunto. Nao havia procurado nada sobre o tema. Simplesmente estava em meu coração buscar uma forma de conceituar melhor sobre o fogo. Eis que vejo essa matéria que vem em boa hora para "acalentar" mais ainda essa vontade de escrever sobre. Peço a irmã que se puder incrementar ( não incinerar) serei muitíssimo agradecido. Pois sei que há mais e até melhores estudos e aplicações como esta acima facilitando o entendimento. Conto contigo.

    Um abraço de graça e pela Graça!

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  4. Olá, irmão Eliel. Que a paz esteja com você. Então, o pastor Antônio deu uma resposta aí embaixo do jeito que eu penso. Eu entendo o uso do fogo em situações diferentes, até porque na Bíblia fala no uso do fogo para refinar e purificar o ouro por exemplo. Mas quando a gente ver no antigo testamento, o fogo era usado para "queimar" a oferta pelo pecado. A carne do sacrifício era queimada. Ao meu ver, uma espécie de juízo. E quando ao batizar com espírito e com o fogo, nas falas de João, penso como o pastor Antonio aí em baixo, são duas coisas diferentes. É que juntamos a expressão "batismo com espírito e fogo", mas na verdade é "com o espírito e com o fogo". Na minha interpretação, baseada até no comentário bíblico na NVI, o fogo não se refere ao espírito, ao derramamento do Espírito de Deus, e sim no juízo. Aqueles que crerem serão batizados com o espírito quem não crer com o fogo, ou seja, juízo.

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  5. Ei pastor, eu não sou teóloga, então, não me arrisco a fazer teologia nas palavras. Mas eu também interpreto esse fogo de João como juízo, não como fogo do Espírito. Ao falar do batismo pelo Espírito e pela fogo, ao meu ver, João continua a agir como sempre agiu, mostrando dois caminhos: o da salvação e o da condenação. Ah, vou querer uma ajudinha sua para um texto que quero escrever... rs

    Fica com Deus.

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  6. Ei, Marcelo. O texto realmente é curto, sem muitos detalhes teológicos. Eu realmente escrevi o que pensava. Mas o assunto é extenso, longo e profundo. Prometo que vou estudar mais para publicar mais detalhes.

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  7. Tirou as palavras da minha boca Eliel, excelente comentário.

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  8. Olá Mikaella, gostaria de poder enriquecer a discussão tb. Entendo e respeito seu ponto de vista onde vc interpreta o fogo como juízo. Gostaria de pontuar algumas coisas:

    1. Todas as músicas que vc citou em nenhum momento o autor "pede" pelo fogo do juízo sobre si ou sobre a congregação. Eu sei disso, vc sabe disso e todos que escutam a canção tb sabem disso. Logo, não é uma questão de não saber o que se está pedindo como sugere o título da postagem. Creio que seria mais uma questão de interpretação seja ela diferente ou equivocada.

    2. Gastei um tempo verificando o hinário presbiteriano novo cantico (usamos esse hinário em minha congregação) e achei algumas provas de que esse tema ou essa forma de entender o fogo não é uma novidade criada pelo "movimento gospel", vamos à alguns exemplos?

    a) hino 13 - contemplação

    Fogo em cima da arca santa,
    Sarça ardente do Sinai
    São figuras desta glória
    Do Senhor e Eterno Pai.

    b) hino 85 - espirito consolador

    Tal como o fogo a arder e todo o mal queimar,
    Aquece as almas com poder, ensina-nos a te amar.

    c) hino 132 - vivificação

    Eis o mundo tentador
    A querer nos atrair,
    Sem teu fogo abrasador,
    Não podemos resistir.

    Enfim, acho que seria simplista demais rotular fogo = juízo.

    Abracos.

    Sanatiel

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  9. Olá, Sanatiel. Como vai? Então, vamos lá, eu tive que pedir ajuda ao Antognoni para achar o hinário presbiteriano e ver as músicas. Conheço um pastor que diz que analisa, antes de cantar nas suas igrejas, até as músicas do Hinário para o Culto Cristão, que usamos nas igrejas Batista ou do Cantor Cristão, não sei se você conhece. Mas vamos lá: Essa primeira música tb cantamos na igreja Batista. Esse hino nada tem a ver com o modismo pedindo fogo. Esse cântico, ao meu ver, é um retrato da história, mostrando como Deus se mostrava diante do povo de Israel quando estava no deserto. Tanto que você percebe que o autor não pede a Deus para "queimar a sua igreja", nem vir com o seu fogo sobre eles. Fala apenas de como Deus se manifestou no deserto. Esse hino 85, não conheço, mas pelo que vi da letra completa o "fogo" que ele diz não tem o sentido de descer um fogo do espírito sobre eles, mas sim de sentir uma vontade de louvar, de sentir o agir do Espírito. Esse último hino, o fogo abrasador está no sentido de for ser atraído e de ser arrebatado por Deus, do pecado, da tentação do mundo. Sinceramente, os sentidos desses hinos são bem diferentes das músicas atuais. O incendeia, senhor, a sua noiva, por exemplo, erra em várias coisas. Primeiro que a letra é fraca, sem profundidade. O segundo é que as pessoas repetem o tempo todo incendeia, incendeia, incendeia. O que realmente eles querem? Ao meu ver, nessa música, eles não estão pedindo para sentir "um fogo", "chama" pelo amor de Deus. É algo além. Querem manifestações sobrenaturais, querem ver o fogo descer, literalmente. Enfim... esse assunto é muito complexo. Tentei resumir o que penso. Não sei se consegui. Mas é muito bom poder ter um diálogo saudável e edificante. Fique com Deus.

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  10. Acrescentar a referência: Zc 13.9

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  11. Gilson Gonçalves de Oliveira11 de abril de 2014 às 09:33

    Mateus 3.11 segue a regra da gramática grega em que dois substantivos (Espírito-Fogo) ligados por uma conjunção aditiva (kaí: e/também) regidos por uma única preposição (de regência) aponta para um único acontecimento no tempo, no espaço e no conceito. Logo, "com o Espírito Santo" na regeneração que nos liga numa união mística com Cristo, de modo que Sua morte foi a nossa morte, o Seu batismo de fogo do juízo na cruz (Lc 12.49-50; Mc 10.38) foi o nosso batismo (Rm 6.1-3). Assim, como o batismo com água é sinal do único batismo na vida cristã com o Espírito Santo, isto igualmente denota que o elemento Fogo é único na experiência cristã: A nossa identificação no sofrimento único de juízo de Cristo na cruz. De maneira que não aponta supostos "avivamentos" "repetitivos" na experiência cristã. A regra é esta: Se o batismo com o Espírito é único, o batismo com Fogo também; se são regidos por uma única preposição de regência, ambos ocorrem no mesmo tempo e espaço.
    As línguas que apareceram sobre as pessoas no Pentecostes não eram de Fogo, mas semelhante a Fogo (At 2).
    OFogo de juízo em Mt 3.11 é de salvação para os santos, porque é o Fogo que ardeu na cruz de Cristo: O Espírito como Fogo sobre o altar dos antigos sacrifícios (Hb 9.14); mas Fogo de condenação para os ímpios, porque arderá no sofrimento etrno (Mt 3.12).
    Sou protestante conservador, e confessoque tem muitos hinários usados pelo nosso povo por aí professando muitas heresias que não é de somenos.
    Xc 13.9 fala do sofrimento dos santos nesta terra.

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  12. Gilson Gonçalves de Oliveira17 de abril de 2014 às 04:40

    Alguém poderá objetar declarando que, neste caso, "a regra então equivale que os ímpios destinados ao sofrimento eterno também receberão o batismo com o Espírito Santo!"
    A cruz de Cristo e a justificação foram antecipações do Juízo Final, bem como o Pentecostes (At 2) antecipação dos tempos de refrigério.
    No Juízo Final o Espírito Santo manifestará em todos os ímpios presentes (se isto pode ser chamado de "batismo do Espírito" não sei) e convencerá todos ali da incredulidade, da justiça e da razão do juízo (Jo 16.7-12). Nos convertidos hoje, permamece o dom do Espírito com Suas dádivas, nos ímpios do Juízo Final, permsmecerá eternamente o Fogo Inextingúível (Mt 3.12).
    Postei comentário aqui: http://www.artedechocar.com/2013/11/martyn-lloyd-jones-john-stott-e-1co-12-13-o-debate-sobre-o-batismo-com-o-espirito-santo

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