sábado, 28 de maio de 2011

Meninas chinesas ainda clamam pela vida

Por Élida Justino Rodrigues


Meninas Chinesas (Jorge Camargo)

O mundo precisa
Das meninas chinesas
De suas vozes suaves
Sua imaginação

Seus doces sorrisos,
Travessuras amenas
Suas flores e aves
De papel e ilusão

No entanto, elas são rejeitadas,
São largadas pra morrer
Mundo cruel, vida tão vaga
Onde ter é mais que ser

O mundo precisa
Das meninas chinesas:
Respeito, amizade,
Tolerância e compaixão

O mundo precisa
De habitantes que sejam
Meninas e meninos
Em seu próprio coração!

O mundo precisa das meninas chinesas,
De seus desenhos de nuvens,
Feitas de algodão
Os cadernos que levam
Para a escola cantando
Pelas ruas cantigas,
Que elas próprias farão.

Ao ouvir essa bela canção a minha mente foi reportada para a realidade de muitas garotas na China. Problemática essa que remonta séculos.

Desde 1978 a China adotou sua famosa e radical política oficial de Controle de Natalidade, a Lei do filho(a) único. Cada casal somente pode ter um filho e para garantir que a lei não fosse burlada foi posta em ação a engrenagem policial dos comitês de bairro, que vigiam todas as grávidas ou suspeitas de estarem grávidas.

No final do século XIX as missionárias norueguesas Sofie Reuter e Anna Jakobsen depararam com esse infanticídio na China. Em seus escritos declararam: “Era raro que um casal tivesse mais de uma ou de duas meninas. Se nascessem, eram descartadas imediatamente. Isso era feito de diferentes formas. A menina podia ser simplesmente oferecida como alimento a cães selvagens e lobos. Às vezes o pai a levava à ‘torre dos bebês’, onde logo morreria por causa do abandono e da fome e onde seria encontrada pelas aves de rapina.”

As missionárias Reuter e Jakbsen vasculhavam diariamente os locais de abandono para salvar as meninas chinesas da morte certa. Elas, então, criavam essas meninas e as discipulavam na fé cristã.

Em 1990, o censo registrou 23 milhões de nascimentos. Mas no censo do ano 2000 havia 20 milhões de crianças com 10 anos de idade. Uma diferença de 3 milhões. Considerando que nem todos os naciturnos de 1990 tenham sobrevivido até o ano 2000. As crianças clandestinas são ainda mais numerosas.

Como já é amplamente sabido, que essa política do filho único não funcionou plenamente e ainda criou um problema não pensado pelos gênios do comunismo chinês que não consideraram em suas equações a força das tradições familiares chinesas. O filho homem, o primeiro, ainda que não seja primogênito, é o responsável pela guarda dos pais na velhice. Por isso, uma das mais terríveis conquências dessa equivocada política demográfica foi o extermínio de primogênitas mulheres. O nascimento das meninas passou a ser a promessa de um futuro de solidão e desamparo na velhice, uma frustração. [Porque as filhas, quando casam, passam a ser filhas da família do marido]. Essas meninas, bebês, passaram a ser malquistas. Eram e, possivelmente, ainda são, abandonadas ou assassinadas ao nascer.

Além disso, a política do filho único gerou um excesso de varões sem candidatas a esposas disponíveis para todos. Em 2020, haverá um excesso de 30 milhões de homens chineses em relação ao cada vez mais reduzido número de mulheres. Ironicamente, a situação só não é pior por causa da audácia de transgressores como Fu Yang. Como ele, muitas famílias aceitam e mantêm suas meninas em segredo.

Mas, fora as exceções, quem não cumpre a lei está sujeito a duras penalidades. Os trabalhadores de empresas estatais podem perder seus empregos. Outros, além de ter pagar alta multa podem, ainda, perder suas casas ou mesmo ir para a prisão.

Apesar dos rigores da lei, muitos transgridem. O senhor Fu Yang, 47 anos, da cidade de Xiamen, confessa; Eu sou o maior transgressor da política do filho único. Nos últimos 10 anos eu tive sete filhas. A família, que hoje tem uma vida próspera, no passado, teve de fugir de três províncias e esconder os filhos com amigos.

Não é uma proeza fácil e exige certa dose de costas quentes, isto é, bons contatos em termos de poder político. Mesmo em Xiamen e Fu Yang passou por momentos complicados: Quando eles [as autoridades de Xiamen] descobriram que eu tinha sete filhas tentaram derrubar minha casa, mas felizmente tenho boas ligações. Meu tio é chefe da aldeia. Também queriam me multar em 600 mil yuan [cerca de 60 mil reais]. Eu me recusei a pagar. No fim eles derrubaram apenas uma pequena parte de minha antiga casa e eu paguei somente 2 mil yuan. Na aldeia de Fu Yang muitos outros casais têm mais de um filho.

Existe um livro de imagens antigas da China, de Ren Ming, ‘O sonho das mulheres’. Ele explica como as mulheres podem engravidar de meninos, além de ensinar como os homens podem abusar sexualmente das mulheres. Também ensina a lavar bebês. Os meninos são lavados na primeira água. Na água já utilizada, as meninas são mergulhadas e mortas.

Ainda hoje, em certas regiões da China, a morte de meninas é parte da cultura de diferentes formas.

Oremos pelas meninas chinesas, porque Jesus já exemplificou de formas variadas o grande valor que as mulheres têm. Ele as valorizou de modo surpreendente.

Intercedamos também por missionários que desempenham ações como as de Reuter e Jakbsen.

E que também venhamos a erguer nossas vozes a favor dos injustiçados e os que sofrem com essa triste realidade.

Naquele que também ama meninas chinesas,

Élida Justino Rodrigues. 

*** 
Élida é Professora graduada em Letras pela UEPB e Missionária. Também é diretora do Colégio Betesda onde diariamente fala do amor de Deus para adolescentes e crianças.

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