quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O legado musical de Jayrinho

Por Antognoni Misael 
Jairo Trench Gonçalves, conhecido no meio evangélico como Jayrinho, foi um jovem talento musical das décadas de 70 e 80. Considerado como um dos grandes referenciais da música evangélica brasileira por muitos cristãos da avant garde musical. Sem a menor sombra de dúvida, quem gosta e se identifica com o trabalho do Grupo Logos com certeza se vislumbrará com as canções do artista que formou, ao lado de Paulo Cezar, o Grupo Elo.
Jairo foi o único filho homem em meio a quatro meninas. Filho de português, viveu em São Paulo e teve uma vida nobre, confortável, devido a estabilidade dos pais. Quando conheceu a Cristo nos idos de 1970, apressou-se em servir a Deus de forma exclusiva partindo para o Instituto Bíblico Palavra da Vida onde se preocupou em estudar teologia. Ao completar os estudos em 1974, conheceu Hélia, com quem se casou no início de 1975, em São Paulo.
O que era ser um jovem cristão na década de 70? Nada fácil. Enquanto o entretenimento era sacudido pelo Rock in Roll de bandas como The Beatles, Led Zeppelin, Rolling Stones, e tantos outros artistas e segmentos cujas mensagens eram contrárias aos princípios bíblicos, a igreja evangélica no Brasil dava ainda passos modestos tanto em questões culturais quanto na musicalidade própria - criação de melodias e elaboração de arranjos musicais de qualidade.
Jayrinho contribuiu bastante para formatação e inovação na música crista. A inovação aconteceu quando um grupo de oito pessoas escolhidas pelo maestro norte-americano Dick Torrans, missionário do Palavra da Vida, quebraram a tradição musical européia (“escandalizando” no bom sentido) e passaram a compor canções próprias – Jayrinho compôs "Nos montes eu vou, com Cristo eu estou, nos vales campinas, com meu Salvador..., etc." e outras .
Como desbravar era uma missão desafiadora, Jayrinho junto com seu grupo, aprovados e capacitados por Deus, passaram a se apresentar nas praças, ginásios de esporte, pequenas e grandes igrejas, indo, indo, indo e sem nunca deixar fugir o sorriso dos lábios e o comprometimento com o Reino. É válido ressaltar que neste maravilhoso grupo também participavam o Paulo Cezar, juntamente com a Nilma, sua esposa, e Nancy, esposa do maestro Dick, também produtor e arranjador musical do grupo.
Jayrinho era um líder, idealizador, um sonhador “ambicioso”.  Seu desejo era ampliar os espaços, enriquecer mais a música cristã, conhecer novos horizontes. Sensível e de grande musicalidade, era capaz de formular ideias, compor poesias simples, porém cheia de sofisticação. Relatou o músico Ivan Cláudio (parceiro de grupo ao lado de Jayrinho e Paulão) que este passava horas com seu violão, às vezes diante do piano cantarolando até que a melodia fluísse. Jayrinho utilizou de todos os recursos que possuía (instrumentos musicais, sintetizadores, etc.) perseguindo sempre a música de qualidade. Era um perfeccionista.
Num primeiro momento preferiu não ferir a tradição quanto a certos costumes da música, como a utilização da bateria (um pepino indigesto por parte da igreja) -  enfrentada pelo grupo  Vencedores Por Cristo, que naquela mesma época introduziu vários instrumentos censurados pela comunidade evangélica brasileira. Para comprovar isso basta ouvir o primeiro disco gravado por Jayrinho “Calmo, Sereno e Tranqüilo” - este tinha apenas o uso do violão e, quando muito, um contrabaixo.
Ao final do ano de 1975 foi formado o 'Grupo Elo', e a partir daí Jairo montou todo um aparato para gravação e impressão, que funcionava no mesmo prédio do Mapa Fiscal Editora, de propriedade de seu pai em Atibaia-SP. Enfrentando as censuras instrumentistas, comporam um arsenal de  discos belíssimos: “Nova Jerusalém”, “Ouvi dizer...”, “Um dia”, “Calmo, sereno e tranqüilo”, “Nova Canção”, e em 2008, “O ensaio”, que é um registro único de momentos de ensaios, elaboração de arranjos e composições do Elo.
As músicas de Jayrinho evidenciam melodias belíssimas, bem definidas; particularmente noto a verve das baladas de MacCartney, o blues, o Country, o jazz e a bossa. Certamente nele foi respingado um pouco de cada influencia dos sons nacionais e de fora. As letras eram igualmente belas, simples, humanas, profundas. Escutem a simplicidade da canção “Um Dia” e “Ao sentir”, escritas por ele e note um pouco de sua forma de ver o mundo, Cristo, e a vida.
Tudo estava à pleno vapor, quando em 1981 Jayrinho veio a falecer em um acidente de automóvel na estrada de Atibaia-SP. Morreram ele, sua esposa Hélia e seu filho mais novo, ainda bebê, André - Cristo os tomou para Si. A sua alegria, bom humor, espiritualidade, ficaram marcadas para nós como lembrança nas melodias e letras que nos legou.
No mesmo ano de sua morte, o Grupo Elo, que tinha alcançado a venda de mais de 800.000 Lps e a Revista Elo, que tinha chegado a mais de 28.000 assinantes abrangendo o Brasil, Angola, Portugal, Moçambique e Espanha, se desfizeram. 
Resta-nos hoje só recontar a história deste que foi um dos maiores compositores e cantores da música cristã moderna. Meu desejo é que as gerações presentes, os grupos de louvor, os músicos e ministros da música, tenham a oportunidade e prazer de conhecê-lo assim como eu tive.
Viva a música cristã de qualidade!!
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Fontes:
SOUZA, de Salvador. História da Música Evangélica no Brasil. Clube dos Autores, 1ª edição. Brasília-DF, 2011.

Um comentário:

  1. Jayrinho era um poeta inigualável, Deus o levou, espero q ainda venham muitos Jayrinhos, Janires, Sérgios Pimentas e outros similares no nosso país, precisamos. E q sejamos tbm.

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