terça-feira, 19 de abril de 2011

Quando a música ensina a vida...

Segundo Aurélio, música “é a arte e ciência de combinar sons de maneira agradável aos ouvidos”; no entanto, penso que seria mais lógico dizer que ela é a arte de combinar sons e silêncio, já que o ser “agradável” a alguém pode variar de pessoa para pessoa. Gostos à parte, o que muitas vezes não sabemos é que além dos discursos, sentimentos e vibrações, a música se parece tanto com nós humanos que a sua linguagem e recursos são freqüentemente usados na vida cotidiana. Pra tirar lições dela, se faz necessário reconhecer não só seus componentes básicos: ritmo, melodia e harmonia, mas outros elementos que são determinantes para uma boa execução, por isso pensei na dinâmica e no fraseado como aspectos importantíssimos para uma peça musical bem tocada.


Vejamos o que cada item pode nos ensinar:


RITMO: é a ordem das batidas, a acentuação dos sons e das pausas de maneira ordenada.
Em nossas vidas o ritmo está presente na forma pessoal de cada um desempenhar seu andar cadencial (cada um tem seu próprio ritmo), como também na velocidade do nosso dia-dia; há pessoas cujo ritmo de vida é bastante acentuado, estressante, e nesse caso, as pausas são bem vindas, pois nelas as forças devem ser renovadas pra que a “música da vida” não pare.


MELODIA: é a sucessão de sons musicais combinados gerando um sentido, ela pode ser agradável para uns e não para outros.
Em nossas vidas, os traços melódicos têm haver como a personalidade de cada um; melodias alegres, tristes, simples, complexas, contagiantes ou tensas, representam pessoas e seus discursos, ou seja, é o “solo musical da vida” que cada uma entoa no seu cotidiano.


HARMONIA: é a combinação de sons simultâneos gerando intervalos e acordes. É o conjunto de notas vibrando ao mesmo tempo num mesmo espaço auditivo.
Em nossas vidas harmonia representa a capacidade de sociabilidade que cada um tem. É conviver em harmonia com o próximo escutando um tom que às vezes não lhe agrada ou estando num grupo de notas distintas da sua, e mesmo assim em meio a tanta dissonância, construir a unidade sonora produzindo uma bela peça musical é sinal de superação e capacidade de lidar com o diferente. Isso é que é viver em harmonia com os outros.


Quando esses três elementos estão bem resolvidos numa música, e cada instrumentista consegue dominá-los satisfatoriamente, chega-se à hora de compreender aspectos importantíssimos relacionados à execução da música (muitas vezes eles passam despercebidos até por músicos habilidosos):


DINÂMICA: é a capacidade e habilidade de lidar com as propriedades do som (altura, timbre, duração e intensidade) durante a execução de uma peça. Muitos músicos iniciantes ou inexperientes às vezes conhecem os ritmos, acordes, solos, mas não têm a mínima noção dos momentos baixos e altos da música. Às vezes isso gera um efeito egocêntrico, principalmente quando o volume de um instrumento está com a dinâmica bastante alta ofuscando o brilho harmonioso do conjunto – isso é muito comum nos bateristas “mão-de-ferro” e nos guitarristas da “santa distorção”. Essas nuanças entre o forte/fraco, alto/baixo são importantíssimas não só para a música, mas para a vida.
Em nossas vidas há momentos de baixarmos nossa voz, há momentos de até silenciarmos; já em instantes oportunos, dizer algo com o tom de voz forte, alto, pode ser super adequado como, por exemplo, reivindicar por saúde e educação, pedir por socorro, comemorar o gol do seu time ou até mesmo repreender alguém de forma sensata.


FRASEADOS: os fraseados são expressões de solo sobre três ou mais notas, podem ser entendidos também por pequenas ornamentações, arranjos, ou solos curtos. Essa linguagem musical deve ser colocada de acordo com o contexto da música: em blues, usa-se frase de blues, em baião, frase de baião, em samba, de samba, e assim deve sempre ocorrer em outros estilos.
Em nossas vidas é preciso ter a sabedoria de usarmos nossas frases da melhor maneira possível. A linguagem é algo que deve ser inteligível e contextualizada; as frases que usamos em casa são construídas sob uma ideia de intimidade, liberdade e até com excesso de sinceridade; quando se fala de ambiente de trabalho, as frases devem ser pautadas de profissionalismo, responsabilidade e alteridade. Falar uma linguagem que ninguém conhece pode deixar a coisa sem nexo algum. O apóstolo Paulo reforça a importância disso ao afirmar que é melhor falar cinco palavras que alguém entenda do que dez mil desconhecidas (I Coríntios 14:19).


Nossa vida é uma canção entoada por nossas atitudes, portanto, aprender com a música é um bom começo pra quem não quer desafinar sua própria história.

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