Por Antognoni Misael
O encontro da Consciência Cristã realizado em Campina Grande-PB realmente tem sido um dos mais relevantes do Brasil se tratando de defesa da fé cristã e edificação da igreja. Ali, evangélicos das mais diversas denominações, regiões do país se encontram para aprender mais do Senhor Jesus. O evento é abençoador.
Alguns momentos que presenciei na quarta noite do encontro, sábado dia 18, me fez suscitar uma velha querela relacionada a música contextualizada, assim como o Evangelho como um todo sendo não só utilizador da cultura, mas também transformador dela.
Nesta noite especial a inédita presença do cantor Stênio Március abrilhantou o culto. Foi a partir de sua participação que pude conferir algumas impressões tanto a respeito dos estilos musicais no culto, especificamente no costume local, quanto da música contextualizada.
Diferente das participações dos refugos grupos de louvor, cujo repertório líquido sempre se adéqua aos hits do momento ao sabor de previsíveis ministrações, Stênio imprimiu ali sua refinada poesia abalizada em profundas verdades bíblicas. Em cada canção entoada, fez questão de sintetizar rápidas reflexões a fim de passar uma mensagem objetiva para edificação de todos os ouvintes, porém, mesmo assim, tive a confusa impressão de que boa parte daquele variado público estranhou aquela adoração através de uma música virtuosa e contemplativa (ao contrário do que muito se ocorre na música evangélica massificada). Normal. Diante de um público ainda embriagado com chavões do gospel extravagante, realmente um cantador de canções tipicamente regadas a viola, poesia e Bíblia, não soaria tão familiar ao momento atingindo unanimidade.
Mas foi só minha impressão. Isso não quer dizer nada. Resta então a você (leitor) que estava lá, tirar suas próprias conclusões. Entretanto, vale registrar aqui a boa iniciativa do CC em trazer contrapontos da música cristã, a saber, Grupo Logos, Sal da Terra, Atilano Muradas, Nelson Bomilcar, e outros que deram sua contribuição ao longo dos eventos passados. Combinar ótimas palestras, sermões cristocêntricos com uma boa música cristã faz sentido e faz muito bem.
No segundo momento da participação no culto Stênio trouxe a tona o tema da segunda vinda de Cristo e elucidou sobre o muito desuso dessa espera por parte da inchada igreja brasileira, tanto nas músicas quanto nas pregações. Em seguida ajustou o violão, anunciou a música “Na Glória do seu poder”, sacou uma batida bem nordestina em ritmo de xote e louvou entusiasmadamente a canção onde em uma de suas partes dizia: “Qual asa branca nesse dia voarei, singrando os ares ao encontro do meu rei, o povo seu emocionado mil louvores vai render, Jesus virá na glória do poder”.
Pra quem não conhece Campina Grande-PB, a cidade é conhecida nacionalmente como o local do “Melhor São João do Mundo”, e, portanto este detalhe parece-nos dizer algo a respeito da cultura local. Por isso após cantar o seu xote, Stênio Március não escondeu sua frustrada expectativa para com o entusiasmo do público, e advertiu sobre a importância da adoração e evangelismo em contexto com a cultura local: - “precisamos adorar a Deus com nossa cultura, nosso folclore”, disse ele com toda veemência.
Como um militante de um evangelho integral, cultural, transformador, e um amante da música brasileira, Stênio talvez tenha imaginado que tocar um xote cristão na capital do forró seria como tocar pandeiro em roda de samba. Pelo menos a minha impressão foi a de que ele imaginou que a igreja campinense fosse bem familiarizada com o forró, xote e baião - de pronto, largo minha imparcialidade aqui e digo que é mais fácil um crente paraibano conhecer canções do Hillsong, nem que seja em versão brasileira, do que um Sal da Terra, Carlinhos Veiga, ou Expresso Luz, e nem sempre isso é questão de escolha, mas de acesso, consciência e influência.
Diante dessas problemáticas levantadas, algumas questões trago à tona neste breve texto e deixo pra reflexão de vocês:
- A grande maioria dos grupos musicais das cidades (inclusive de Campina Grande) monta sua arte cristã baseada nos contextos culturais locais (como frisou Stênio Március) ou reproduzem padrões dos sucessos vindos das grandes gravadoras do gospel?
- A intenção de se fazer música a partir das culturas regionais é coerente para com a realidade do século XXI, visto que a globalização burla as fronteiras regionais e esfarelam as identidades culturais?
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Deixo estas indagações em aberto e aguardo comentários, mas volto num outro momento pra debater junto com vocês.
Opa... Imagino o que o Stenio deve ter sentido.
ResponderExcluirSobre as suas perguntas só queria dar um pontapé inicial. Sim, claro que vale a pena cantar o regionalismo e levar o Evangelho e seus valores por meio das canções identitárias de um povo. É só olhar ao redor e perceber que a globalização não destruiu o regionalismo como se pensava... Ao contrário, reforçou. Aqui em Brasília o Clube do Choro está lotado de garotos e garotas querendo aprender essa vertente da MPB. O mesmo pode se dizer das aulas de viola caipira, percussão brasileira etc. Isto também pode ser visto nos centros de produção artístico e musical do país. Infelizmente só os crentes não percebem isso.
Grande Pastor Carlinhos, como sempre mantendo a bandeira de nossa música brasileira em evidência. FIco feliz pelo comentário e de quebra já solicito, se possível, uma entrevista para nós do arte de chocar - queremos ampliar o debate e distribuir mais sementes de criatividade ligadas a regionalidade em nossa terrinha.
ResponderExcluirAbração!
Misael
Ok, vamos nessa.
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