sexta-feira, 28 de março de 2014

Quando estou em sua presença dá vontade de Morrer

Há alguns anos atrás uma canção tornou-se bastante executada no meio cristão. Com um groove animado e motivador, a letra pede que o Senhor venha “encher este lugar com Sua Glória”. O ápice é alcançado quando no refrão se diz: “Quando estou em sua presença dá vontade de pular, da vontade de dançar, da vontade de gritar, da vontade de correr.”

Em meados do ano de 2012 fui convidado para fazer parte de um evento de Adoração. Neste evento eu e minha equipe de músicos não seriamos os únicos participantes e, como é nosso costume, estivemos presente durante a participação da outra banda. Ali, sentado na primeira fila eu ouvia esta canção ser executada. Não foi a primeira vez que a ouvi. Na verdade eu já estava bastante familiarizada com ela. Mas pela primeira vez me senti extremamente incomodado ao ouvi-la. O refrão foi tocado e, como já era de se esperar, as pessoas freneticamente começaram a pular e gritar. Dançando desconjuntadas e sorrindo "bobamente". Foi então que me ocorreu: Qual a vontade que me invade quando eu estou na “presença do Senhor?”.

Precisamos antes de mais nada conceituar o que seria “Estar na presença do Senhor”. Alguns personagens antes de nós, relatados nas sagradas Escrituras já tiveram esta maravilhosa experiência de estarem diante da presença e Glória de Deus. Vamos observar qual o desejo que lhes invadiu nesse momento?

Quando Moisés esteve na sua presença:

“Então ele(Moisés) disse: Rogo-te que me mostres a tua glória. Porém ele(Deus) disse: Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti, e proclamarei o nome do Senhor diante de ti; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem eu me compadecer.E disse mais: Não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum verá a minha face, e viverá.”(Êxodo 33:18-20)

Este é um dos episódios mais enigmáticos das Escrituras. Existem tantas implicações e questionamentos dentro destes poucos três versículos, que absolutamente não caberia nesta pequena reflexão. Mas podemos observar algumas coisas que cooperam para o tema proposto aqui.

A Glória de Deus é morte para nós. Ele é tão SANTO e PURO que um simples vislumbre de seu caráter resplandecente poderia nos consumir de imediato, pois somos o oposto dEle. Temos tantas falhas e imperfeições quanto se pode ter. Somos vaidosos, orgulhosos e egoístas. Habita em nós uma semente original que torna a nossa essência corrupta. Olhar para a sua Glória “face a face” seria nossa condenação imediata. Pois unido à sua Beleza, Pureza e Santidade está sua JUSTIÇA. E por causa de sua Justiça, o pecador não ficaria impune em sua presença. Seria algo instantâneo e imediato. Por isso Deus “priva” Moisés de encontrar-se face a face com toda a sua essência de Glória. Deus protege Moisés do próprio dEle mesmo.

É importante perceber e pontuar também o respeito e contrição de Moisés durante tudo isso. Manso, humilde e temeroso, ele é escondido em uma fenda. Respirando baixinho e sem escândalos ele espera. Confiante na Misericórdia de Deus em livrá-lo dEle mesmo.

Quando Isaías esteve na sua presença:

“No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e a cauda do seu manto enchia o templo. (...) Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos.“ (Isaías 6:5)

Isaías foi levado de alguma maneira que não podemos explicar ao local onde o Rei se assenta a julgar. Ali, neste exato momento, enquanto ele observa os serafins voando ao redor do trono e as vestes reais enchendo o tempo um terro invade sua alma. Fica claro pra Isaías o quão puro Deus é. Fica exposto a olho nu sua estupidez e maldade. Sua impureza torna-se um câncer. E Ele então clama: “Ai de mim!” Não existem pulos frenéticos nem gritos histéricos. Existe um homem no chão lamentando por sua estupidez e maldade. Chorando seus pecados e amaldiçoando sua maldade nata. Agora observem, se trata de Isaías. Não estamos falando de um criminoso sem escrúpulos. Não estamos falando de um cruel estuprador de crianças. Estamos falando de um profeta. Um homem piedoso. Este homem, considerado íntegro aos nossos olhos, se vê como uma aberração bizarra diante da beleza incandescente do Divino.

Quando Saulo esteve na sua Presença:

“E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu. E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?

E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões.E ele, tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres que eu faça?” (Atos 9:3-6)

O mais curioso acerca deste famoso episódio é o detalhe esquecido por todos. Temos o costume de encarar a conversão de Saulo como a conversão de um pecador maldoso ao Senhor. Nos esquecemos que quem esta se “convertendo” aqui é uma das principais autoridades judaicas no que se refere à lei de Deus. Este homem era zeloso e guardador dos mandamentos. Pagava seus dízimos, frequentava às reuniões na sinagoga, inclusive pregava com frequência a maravilhosa palavra de Deus aos seus irmãos, dava esmolas regularmente e fazia suas orações ao Deus de Abraão. Mas apesar de tudo isso, ao se encontrar com “um resplendor de luz do céu” ele descobre o quão morta era sua religião. Ele se depara com o fracasso de todas as suas boas obras. Ele é visitado por sua crueldade. Ele era perseguidor de Cristo. Perseguidor de Deus. Logo ele que fazia tudo tão “certo”. O exemplo que os pais queriam que seus filhos seguissem. E agora esta diante da presença de Deus e não lhe resta outra alternativa senão cair ao chão.

Conclusão:
Tendo em vista estes poucos exemplos bíblicos, e desconsiderando outros tantos que poderiam somar a esta reflexão, tanto bíblicos como exemplos dos pais da Igreja ao longo dos séculos que também já estiveram em Sua Presença, chegamos à inevitável conclusão de que estar na presença de Deus é Graça. Moisés esteve, pois “achou graça aos olhos de Deus”. Isaías esteve na presença de Deus e seu temor se foi quando, pela Graça e misericórdia divina ele foi tocado por uma “brasa viva tirada do altar”. Paulo não buscou nem pediu pelo Senhor. O Senhor o quis e foi ao seu encontro quando ele nem sonhava que estava em um caminho longe. Enquanto ele pensava que estava perto de Deus e sendo seu mais fiel servo, ele então descobriu que ninguém havia mais longe do que ele dos caminhos verdadeiros de Deus. Graça. Não adianta pedir, nem suplicar, nem mesmo invocar. Não funciona. É Graça. Ele tem que querer nos oferecer tamanha Graça.

Não é o que me propus escrever, mas vale a pena ressaltar que em Cristo, hoje entendemos que Deus quis nos trazer para Sua presença. Esta Graça foi manifesta na pessoa e obra de Cristo.

Em segundo lugar, o que fica claro como o sol ao meio dia para nós é que estar diante da presença manifesta e gloriosa de Deus resulta na mais profunda aquietação da alma. Não se mexem nenhum dos dedos nem mesmo se dá piruetas. O máximo que se consegue fazer é balbuciar algumas poucas palavras como: “ai de mim... quem sou eu... miserável...”

É inquestionável que a Salvação e Graça de Deus derramadas em nós produz um fruto de alegria e gozo. Uma vida regada de satisfação e sorrisos. Contentamento e arte esta presente todos os dias da vida dos eleitos. Fato. Mas o que se questiona nesse momento é o que acontece quando o Deus que nos salvou, o maravilhoso criador do Universo e o Regente de todas as coisas, o Supremo Governador, o Rei dos Reis resolve nos visitar com sua Glória e nos faz encontrar-nos a nós mesmos em sua manifestação pessoal. Não me resta duvidas que neste momento acabam-se as canções. Ou mesmo os argumentos. Só existe temor e respeito profundos.

Quanto a esta canção, me parece óbvio que ela foi feita para que as pessoas descarregassem suas energias e histerismo. Não foi nada pensado (literariamente falando) o que se diz nela poderia ser trocado por qualquer palavra. Não importa, contato que as pessoas se animem e pulem e façam trenzinhos. Ão foi uma tese defendida. Nem tão pouco é fruto de um estudo detalhado e honesto acerca da presença de Deus. É fruto do mercado gospel. Aquele que tirar mais gritos da plateia ganha. Bem, eles ganharam.

Quanto a mim, me unirei a Moisés, Isaias e Saulo e cantarei assim:

“Quando estou em sua presença da vontade de morrer
Dá vontade de chorar
Dá vontade de cair
Dá vontade de sumir
Diante de Ti
Dá vontade de morrer
Dá vontade de chorar
Dá vontade de cair
Dá vontade de sumir”

Porque Ele é mais Santo do que. Mais puro do que eu jamais conheci. Eu não mereço sua presença, se eu a tiver, estarei em contrição e humildemente lançado ao chão. Como alguém que recebe um presente tão maior do que jamais pensou ter condições de receber.

Que Ele seja honrado e respeitado. E que sejam expostos todos os que banalizam o seu santuário.

Em amor,

Marco Telles

***

Marco Telles é líder da Comunidade CRER, é músico com trabalho gravado e dedica-se ao ministério pastoral levando a Palavra também, através da música.

5 comentários:

  1. é uma musica gostosa de se ouvir e cantar nunca tinha parado pra pensar na letra...acho q a maioria das pessoas não prestam atenção na letra...realmente quem somos nós diante de um Deus tão Santo,Grande e Poderoso pra que possamos fazer algo diante dele?, sendo que até para adorá-lo dependemos Dele.

    a paz do senhor a tds fiquem com Deus.

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  2. Parece que te vejo falar irmaozinho!!!

    Profunda reflexao... e eu fico aqui com MUITA vontade de pegar todos esses textos, e pregaarr.....

    Enquanto nao posso, internalizo beem tudo isso que vcs falam taaaoo lindamente nesse blog!!! e um dia ensinareeeiii a muitooooss..... Agora uma coisa faço, os que estaao ao meu lado, mais proximoosss, estees siiimmm escutaraaaoo!!!

    Deus os abençoe...

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  3. Muita teoria e pouca prática !!!

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  4. João Ricardo Pinto7 de abril de 2014 às 04:23

    Cara. Davi quando esteve diante da arca (diante da presença de Deus) teve vontade de dançar e acharam-no maluco como o cara da musica

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  5. Uma questão que creio ser importante é o quanto nossas músicas são bíblicas! Algumas parecem fornecer apenas entretenimento para uma "festinha" gospel ou emocionalismo que gera uma fé não-bíblica, o problema é que hoje multidões tem sido tomados como indicador da presença Dele, o que dá certo toma lugar do que é certo! Não podemos esquecer do que a Palavra chama de Beleza da Sua santidade, pois nesse lugar, não há espaço para vaidades produzidas pelo triste e desnecessário movimento gospel!

    Pr. Robert

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