sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

BRASIL EM 2014: QUAL A NOSSA RESPONSABILIDADE PERANTE A TEMPESTADE QUE SE APROXIMA?

protestoPoucas tarefas expõe o homem a tanto risco de perder a reputação quanto a tentativa de prever o futuro. São incontáveis os registros históricos de profecias não cumpridas. A revolução do proletariado, profetizada por tantos marxistas, é uma delas. Sabemos também de fatos que mudaram radicalmente o curso da história e que não foram profetizados por ninguém. A Queda do Muro de Berlim e o fim da Cortina de Ferro pegaram quase todos de surpresa.


Há daqueles que, por dever de consciência, após análise acurada dos fatos, se expõe a esse tipo de execração pública, ousando falar sobre aquilo que temam que aconteça a fim de despertarem a atenção de todos para riscos iminentes. Esse foi o caso de um homem como Winston Churchill, que durante anos chamou a atenção da Inglaterra para a ascenção do Nazismo, tendo sido ouvido, infelizmente, por poucos, o que custou para os ingleses, que tiveram que se preparar às pressas para a guerra, perdas de milhares e milhares de vidas humanas.


Nesse campo profundamente diáletico, no qual lidamos com tantas incertezas, tendo nossa visão obscurecida pelas nossas paixões, interesses pessoais, falta de acesso a fatos e incapacidade de pensar a partir de análise interdisciplinar -o que hoje é quase impossível em razão do excesso de especialização, neste mundo de tão pouca gente culta-, temos que procurar manter a dupla responsabilidade de evitarmos o alarmismo e o silêncio covarde. Quanto aos "pósfetas", que com arrogância falam sobre o já ocorrido, cabem as palavras de Churchill: "Ative-me à minha norma de jamais criticar qualquer ação de guerra ou de política depois de ocorrida, a menos que tenha expressado pública ou formalmente, em ocasião anterior, opinião ou advertência a respeito".


Pensando no valor inestimável de tanto assumirmos o "risco profético", quanto falarmos sobre o que pode vir a ser objeto de prevenção e, consequentemente, salvar vidas e preservar a paz social, o que deve ser dito sobre o Brasil de 2014?


1. Primeiro, o óbvio. Teremos um ano altamente complexo: Copa do Mundo, eleições e pós manifestações de 2013.


2. Haverá manifestações de rua. A sociedade continua conectada em rede, os três Poderes da República não responderam à altura da magnitude das manifestações de junho, a Copa do Mundo ainda é vista como problema moral, os serviços públicos continuam péssimos, há grave desigualdade social, a crise de representação política persiste e a maior parte da população trabalha muito para ganhar pouco.


3. O país não tem quem fale à nação. A classe governante é carente de proatividade, autonomia, projeto, sonho, carisma, paixão. O Brasil não tem estadistas. Não há quem diga: "Podem esperar de mim sangue, suor e lágrimas" e o brasileiro acreditar. A falta de interlocução poderá tornar mais difícil o fim do clamor popular nas ruas.


4. A polícia permanece despreparada para os protestos nas ruas, e ninguém sabe o que está sendo feito visando prepará-la para o que virá. Policiais ficarão na ponta pagando preço altíssimo. Eles são o único ponto de contato entre um povo indignado e um Estado incompetente, fraco em comunicação e que não sabe se dirigir ao jovem.


5. Mortes de policiais e civis inocentes podem acontecer numa extensão maior nas favelas do Rio de Janeiro. Tudo é muito frágil. Muitos policiais jovens lidando com ambiente altamente explosivo. Há um passivo que os policiais miltares recém chegados nas bases das UPPs têm que administrar. Em todas as favelas há o registro de lembranças amargas, fruto de anos de abuso de poder. Persiste grande desconfiança. Falta alguém entre a polícia e o morador. Sem política pública para a favela, fim da guerra às drogas e reforma da polícia, é grande a probabilidade de vivermos num cenário de instabilidade, dor e frustração sem precedente.


6. As chuvas de verão estão aí. Morte e destruição nos aguardam. Qual leitura será feita pela população? Que resposta o poder público dará para a falta de prevenção?


7. As tensões no sistema prisional poderão se tornar mais graves e ter consequencias nas ruas. Todos sabem que a situação é insustentável.


8. Quebra-quebras pontuais devem ocorrer nas mais diferentes regiões do país devido à precariedade dos serviços públicos, tais como, saúde, educação, transporte e segurança.


O que fazer?


1. Protestar nas ruas.


2. Firmar um compromisso radical com a paz e completo repúdio tanto à anarquia quanto à subversão da ordem democrática. Isso significará lutarmos pelos nossos sonhos enquanto exportamos para o mundo uma cultura de manifestação pacífica, não espasmódica, inteligente, criativa, determinada, pautada pela Constituição Federal e Declaração Universal dos Direitos Humanos.


3. Exigir de todos os candidatos, nas próximas eleições, metas, prazos, compromisso com a transparência e prestação de contas.


4. Desenvolver uma visão de Direitos Humanos que inclua a vida de todos, inclusive, a do policial e de manifestantes dos quais você diverge ideologicamente.


5. Denunciar todo abuso de autoridade.


6. Ter esperança. Há nações quem passaram por problemas mais graves do que os nossos e os venceram.


7. Resistir a toda tentativa de manipulação. Teremos ano de muito interesse político. Mentiras serão semeadas. Ouça e leia, portanto, os diferentes. Gente de quem você costuma discordar. Não tome como líquida e certa todas as informações que chegarem até você. Duvide. Duvide da dúvida. Medite antes de falar. Lembre-se que você ama mais a si mesmo do que a verdade.


8. Pense no pobre. Dê voz aos sem voz e visibilidade aos invisíveis.


9. Vote com consciência.


10. Ore pelo Brasil.


Estamos todos diante do imponderável. Não sabemos também qual será o cenário político-econômico internacional. Pode ser que a vida mais uma vez humilhe o que ousou falar sobre o que os olhos não veem, o futuro. Quando me recordo, porém, do que meus olhos viram em 2013 e tento fazer projeção para 2014, sou levado a dizer o que disse sobre esse país, campeão mundial de desperdício de oportunidades históricas, onde nasceram e moram as pessoas que me são mais caras na vida.


Antônio Carlos Costa

***

Antonio Carlos é pastor presbiteriano e presidente da Ong Rio de Paz.

Fonte: Palavra Plena.

Nenhum comentário:

Postar um comentário