sexta-feira, 31 de outubro de 2014

REFORMA DO DISCIPULADO

Por Antônio C. Costa

Tenho recebido convites das mais diferentes igrejas e cidades brasileiras para falar sobre justiça social. Ontem falei sobre o tema, num auditório lotado de estudantes de teologia, na FAECAD, seminário da Assembléia de Deus, aqui no Rio. No próximo domingo, prego sobre o mesmo assunto na Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte.

A igreja está mudando. Jovens do Brasil inteiro estão consumindo esse tipo de pregação. O processo me parece irreversível. Por que? Porque as Escrituras falam dez vezes mais sobre justiça social do que sobre sexo. Os argumentos dos que pregam a favor do compromisso dos cristãos com os oprimidos são irrefutáveis e facilmente encontrados na Bíblia. Soma-se a isso, o fato de vivermos num país de muita pobreza, com a qual os cristãos se deparam todos os dias. Muitos começam a indagar: o que significa ser cristão num país de miséria?

O que espero que mude nos próximos anos? Espero que a igreja não ponha a causa do pobre à frente da evangelização. Só nós evangelizamos. Ninguém mais. Se a igreja deixar de cumprir sua missão evangelística, quem o fará em seu lugar? Não apenas isso. A maior necessidade do homem é a de reconciliação com Deus. Deixar de proclamar o evangelho por conta do foco exclusivo na justiça social vai representar lá na frente, igreja sem povo, e sociedade de estômago cheio e coração vazio.

O que deve mudar não é o compromisso com a pregação do evangelho. Vamos continuar a investir em missões, abrir grupos pequenos e plantar igreja. O que tem que ser modificado é o discipulado. Lembremo-nos que o chamado é duplo: "Fazei discípulos... ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado". Como o discipulado deveria funcionar?

Penso que deveria ser através de um diálogo franco. Indo direto ao ponto. Papo reto. Algo mais ou menos assim: "Irmão, você agora é discípulo de Cristo, que o chama para imitá-lo. Viver a vida que ele viveu significa acima de tudo amar. Sua missão no mundo a partir de agora é amar. Amar é viabilizar a vida do próximo, libertando-o do que o impede de servir, na plenitude do seu ser, a Deus e ao próximo.

Isso significará para você pregar, porque não há liberdade sem Cristo. Socorrer o pobre, porque a fome, a doença, a desinformação, trazem dor e impedem o ser humano de usar seus dons e talentos na proporção do que poderia fazer. Agir politicamente, porque más políticas públicas matam, boas políticas públicas salvam. Vão cruzar o seu caminho vidas preciosas cuja libertação depende de ação política. Enfim, você nasceu de novo. Recebeu um coração de carne. O evangelho ensina que todo aquele que passou por essa experiência transformadora sofre e chora quando vê o seu semelhante em agonia.

Portanto, se prepare. Porque andar com Cristo a gente sabe como começa, mas nunca, como termina. Esse amor que ele implantou em seu coração poderá levá-lo a cruzar oceanos para anunciar o evangelho e ir para as ruas protestar. O preço é sempre alto".

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Fonte: Palavra Plena.

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