segunda-feira, 24 de outubro de 2011

"Ressuscita-me": mais uma fórmula do sucesso gospel

Por Antognoni Misael
A indústria da música trabalha dentro de um padrão. Isso ocorreu em seu formato moderno quando nos Estados Unidos essa indústria conseguiu se apropriar da cultura folclórica e adaptá-la a produtos de caráter lúdico através dos show’s business. O jazz, vertente híbrida de canções de trabalho, blues, gospel, foi talvez o primeiro segmento da música norte-americana a experimentar as exigências seriais desse mercado.
Mas foi quando a própria música pop se auto-formulou que se tornaram pré-requisitos: o tempo da canção, as partes A,B (e/ou C), quantidades de compasso, interlúdio, etc. Isso dura até hoje. Grosso modo, para um veículo midiático “aprovar” o que chamamos de música comercial é necessário que esses elementos estejam bem definidos, equilibrados e se possível com uma forte dose etílica sonora, ou seja, que iluda, impregne, encharque – música boa seria então aquela que você escuta a primeira vez e já sai cantando (#mantra).
Não sou contra os padrões pop, até porque considero uma arte o compositor saber se moldar de forma bela a uma fôrma sonora – isso é para poucos*! Tenho vários CD’s de música pop, admiro largamente vários artistas e grupos desse gênero, mas... venhamos e convenhamos, não suporto abusos nem gato-com-lebre! Outra coisa: aos fãs, ou ouvintes feitos de vidro, que se quebram com qualquer grão de areia: me poupem! Aqui não estou avaliando a sinceridade ou significado pessoal da canção quanto ao receptor -  quem ouve entende como quer, consome ao seu gosto, ressignifica dentro das suas subjetividades.
Lembro-me quando o cantor André Valadão lançou no mercado gospel sua canção Milagre. Um hit que unia uma melodia circular + subjetivismo teológico + milagre imediatista: “Hoje o meu milagre vai chegar. Eu vou crer, não vou duvidar. O preço que foi pago ali na cruz me dá vitória nesta hora”  - Não se sabe afinal se ele quer tratar do milagre da salvação; na verdade ele diz que vive “as promessas dos milagres”, logo são coisas, fatos, presentes, continuidades. Entendo como uma canção bem antropocêntrica que está pronta para que o receptor peça, e meio que, como uma confissão positiva, diga: Hoje o meu milagre vai chegar! Este hit foi um sucesso!
Em seguida, outro mais forte que esse se espalhou pelo Brasil, que tocou milhares de vezes em igrejas e até em pagodes e show’s de forró foi: “Faz um milagre em mim” (Regis Danese). Essa canção que estourou nas paradas do sucesso e na minha paciência também, foi uma $acada incrível do compositor (e dono da música). Regis conseguiu misturar uma melodia “peguenta” + confusão teológica + ideia de milagre – foi a primeira interpretação que ouvi alguém dizer que Zaqueu conseguiu chamar a atenção de Deus... Enfim,este som realmente deu certo!
Contudo quando agente pensa que o ciclo de milagres musicais tem se findado, somos surpreendidos! A criatividade dos caras é boa e a indústria consegue fazer mutações espantosas ao oferecer o mesmo produto, só que com nova maquiagem e roupagem, e novamente e$tourar nas paradas do sucesso!!
Dessa vez, a mesma fonte dos tais milagre se reinventou em Ressuscita-me (Aline Barros) - a mesma mistura de melodia “peguenta” +  confusão teológica +  ideia de milagre funcionou: “Mestre eu preciso de um milagre...”. A ressalva é que diferentemente, nesta canção, a mídia bombardeou teleguiados potentes por todos os cantos do Brasil (a Som Livre se apropriou dos “talentos” gospel, e ao que parece notou que Je$u$ é bom). Gente, perdoe-me a ignorância, eu não aguento mais escutar essa música! (saudades de “Faz chover” (risos))
Sinceramente algumas coisas nela eu não entendi, se possível me esclareçam. A música é para uma pessoa que nasceu de novo? Se for, acho totalmente inviável pedir que Deus ressuscite “os meus Sonhos” – prefiro aceitar que as coisas velhas não me interessam, pois tudo se fez novo. Outra coisa. Fazer analogia com Lázaro e sonhos mortos é algo bem sugêneris, pois quando canto “remove a minha pedra”, tenho por inferência a certeza de que defunto não tem querer, não pede, não clama. Agora se a música é para alguém que não nasceu de novo, a situação fica difícil, visto que não sou arminiano.
A parte mais legal disso tudo é notar que aqueles que cantaram e ‘adoraram’ com “Hoje o meu milagre vai chegar”, continuaram a pedir “Faz um Milagre em mim” e certamente devem estar dizendo “Ressuscita-me agora”.

12 comentários:

  1. Desculpe a intromissão, mas você esqueceu
    a ínfima canção "RESTITUI". Até eu que sou arminiano (rsrs)me pergunto restituir o que?
    Só se for a minha antiga vida ( ou seja a parte b de Efésios 2:1)e a minha querida mãe que faleceu a pouco tempo (Eu quero de volta o que é meu). Infelizmente alguns de nossos músicos pecam na teologia das letras de suas canções e se valem do subjetivismo pós moderno de uma ala
    dita evangélica que em sua maioria segue a onda do momento; com isso deturpam a hermenêutica bíblica e acabam teologizando (isso existe?) os incautos erradamente. Deus nos acuda!!!!

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  2. Só uma palavra: perfeito.

    Que Deus abençoe a sua vida e te dê cada vez mais intrepidez pra falar da Verdade.

    Você me permite publicar esse texto no meu blog?

    Abraço!

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  3. Fala Thiago Ibrahim,

    Citando a fonte, pode publicar em qualquer lugar. Fique a vontade mano. Abraço!

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  4. A vida é assim cara, poucos no topo e muitos querendo o seu lugar. A diferença é só o ponto de vista. Como disse um certo cantor: Somos todos iguais. Não podemos apontar o dedo pra Adão e nem pra quem quer que seja. A nossa "bela" natureza nos faz revive-lo todos os dias. A técnica de ensino de Cristo nunca foi filosófica, pelo contrário, era prática e exemplificativa. Enfim, sejamos melhores como Cristo o foi.

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  5. Muito interessante este texto, amei
    sou uma grande admiradora que Deus Abençoe
    e continue a te inspirar

    Abraços!

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  6. Beleza de texto, estou mandando o link para uns "levitas". Abração.
    Charqueadas -RS

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  7. Já divulguei pra uns amigos da igreja e tbm vou compartilhar no meu blog, graça e paz!

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  8. Bom texto, e a grande lição que aprendo é que precisamos cantar os Salmos, a palavra inspirada de Deus, assim estamos livres desses erros. Deus o bendiga

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  9. Não falei que ficaria com seu blog nos meus favoritos?
    Tô aqui de novo e para aprabenizar pela análise feita, pois sou músico também e professor de Artes, ensinando inclusive música.

    Perfeita e informativa a análise, com elementos consistentes que os cantores na maioria sejam seculares ou evangélicos não dominam, são na maioria só cantores.

    Cantores, instrumentistas e compositores são na maioria das vezes tarefeiros que se ajutam e aperfeiçoam uma criação.

    Meu pai tem noventa e seis anos e por lazer, tocava violão clássico. Meu filho lhe eruntou certa vez: "Vô você gosta de Bossa Nova? aoue meu pai respondeu de pronto: Depende, de qual? Meu filho: de Tom Jobim, Vinícius de Morais... Meu pai, avô dele: Aí, sim gosto.

    Só um adendo: toda a música evangélica, desde os hinários, passando um pente fino, encontraremos restrições, raras vezes não. A cançãonãopode ir contra a teologia bíblica, mas não a expôe didaicamente sempre, é poesia que que para evitar choque deve ser construída cuidadosamente.

    Há hinos e canções não tão exatas mas emocionais e que atraíram pessoas a Deus, trocando em miúdos graças a um e outro milhões converteram... não sejamos tão radicais.

    O problema hoje é igual aquele do menino que não tinha doce e o dia lhe dão com fartura ele tem um diarréia. É tão fácil fazer uma canção hoje com qualidade técnica (não musical, não criativa ) que virou um porre e são todas tão parecidas não é mesmo?

    Crei um blog sobre música evangélica a algum tempo, como é difícil falar bem e não basta só falar mal, tenho dado alfinetadas e tentando dar um aproveitamento, ajudando a leitura do que está sendo ṕroduzido.

    Na minha esperiência musical evangélica tive uma rádio pirata por três anos na cidade Santa Luzia MG, que era ouvida pelas emissoras concorrentes. Uma vez caiu um raio e torrou o trnasmissor. Vinte dias depois coloquei-a no ar novamente e de repente um moto com dois irmãos de uma rádio da igreja presbiteriana pararam na porta para me parabenizar. Nós inovamos a época de várias maneiras estando um pouco a frente das demais, e conseguimos colher frutos para o reino de Deus.

    Esse meu blog é:

    http://amusicagospelbrasil.blogspot.com/

    Espero que goste e dê pitacos lá também.

    Um abraço mais uma vez e parabéns pelo texto e abordagem.

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  10. Olá, Antognione. Paz, irmão. A cada texto você me surpreende pela consciência cristã musical. Concordo em tudo.

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