De folga, debruçado no janelão do apartamento, contemplava o vai e vem dos automóveis e dos pedestres nas ruas que circundam o meu lugar de aconchego.
O calor era intenso!
O sol nos convidava a Jacumã e seu marzão sedutor.
Não apenas o sol, mas até mesmo a brisa, o vento, o brilho da natureza era um chamado a pés descalços, balanço na rede, água nas canelas e contemplação em êxtase ao Criador.
Adoração!
Assim! Sem mascaramentos, sem hipocrisias, sem idolatrizações, sem as manias humanas de tentar surpreender o PAI com as performances acrobáticas de uma suposta “fé”. Ah! Aquele dia gritava para que nós o adorássemos na “vadiagem” de um dia. Como a criação: sem palavras, sem sons “silabáticos” e fonéticos, mas ouvindo-sentindo a sua voz até os confins do mundo (Salmos 19.1-4).
Porém, algo perturba minhas reflexões matinais. Rosto grave, passos firmes, Bíblia na mão, sapato social preto, um bem cuidado paletó e muito suor escorrendo pelas faces e testa. Um “crente”, irmão de fé, a caminho do lugar de culto onde em meio a “glórias” e “aleluias” outros já o aguardavam. E em pleno feriado estavam “pagando o preço” do cristianismo.
A quantas a religião nos leva? Heim!?
Um sentimento de culpa quis acender em meu coração. Afinal, que fazia eu? Recuperava-me de uma jornada de intenso trabalho no dia anterior. Estava aproveitando o dia com a família, coisa rara! Mas a culpabilidade promovida pela religião e sua desconcertante visão tenta ferir nosso cansado coração-mente.
Não! Não permito em Nome de Jesus tal atentado contra mim e o Evangelho! (Romanos 8.1).
Não vou a lugar nenhum em dia de sol a pino paramentado de gravata e paletó como se fosse uma moderna veste sacerdotal.
Quero adorar de calção e chinelo, ou até mesmo descalço sentindo nos pés o chão de meu Deus.
Não quero falar com anjos e me faltar coragem de dialogar com meus filhos, minha mulher, irmãos, amigos e com aqueles que pensam diferentes de mim.
Não quero apenas estar no lugar “Igreja” e ver minha experiência comunitária travestida de ritos e palavras de ordem. Quero ser, eu o lugar-Igreja e minha vida ser um contínuo cultuar de Deus, onde a experiência comunitária seja um partilhamento existencial, espiritual com o meu próximo, em amor.
Quero adorar ao Senhor no sorriso diário mesmo em face da dureza da vida, por que a alegria do Senhor é a nossa força e este gozo não nos será tirado.
Não quero a tristeza sonora da religião, ou de qualquer manifestação que me escravize a ela. Mas vivo o rompimento dos sistemas promovido pelo Evangelho de Jesus.
Por isso, naquele dia saí pelas ruas, de bermuda e sandália, riso largo e peito cheio de amor, visitando a quem há muito não via; eu, a Sua Igreja, saí no Nome do Senhor adorando-o, fora dos padrões, fora dos portões, fora das prisões...
Não que eu não ache bonito uma gravata, um paletó, mas esse sol, esse vento, esse ar...
Em cristo, o sol da justiça.
P.S: Quem lê entenda, a crítica é ao sistema religioso, dito cristão e não as pessoas.
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Jofre Garcia é Teólogo, presbítero e membro da Igreja Presbiteriana de Guarabira-PB. Nosso mais novo parceiro de blog. Visite também Auxílio do Alto.
Deus olha sim, o interior de nossos corações. A modo como vestimos não vai nos salvar. Mas quero explicar uma coisa:- Perante os olhos de muitos, mas muitos mesmo, tantos crentes como não crentes, se perguntarmos a eles qual a melhor aparencia para se apresentar em uma igreja, tenha certeza amigo, entre uma pessoa de boné e bermuda e outra de calça e camiseta ou camisa, a maioria vai escolher a pessoa de calça e camisa sem usar boné. Creio que temos que nos vestir adequadamente e com respeito ao proprio corpo, de acordo com o local em que vamos. Por exemplo:- Eu não posso trabalhar de bermuda no escritorio, bem que gostaria, porque a maioria prefere calça, dizem elas por mostrar mais responsabilidade no trabalho. Fui em um restaurante chique. Todos lá estavam vestidos de acordo com o local. Não ví ninguem de bermuda lá, e nem de boné. Agora em lugares mais a vontade com certeza eu usaria bone e bermuda, principalmente em um dia ensolarado com muito calor. Já pensou se eu fosse de terno e gravata no clube de campo num domingo a tarde? rsssssss obrigado um abraço
ResponderExcluirirmão Jofre, na frente da minha casa aqui em Goiânia, Goiás, tem uma pequena denominação da Assembleia de Deus em que todos os domingos de manhã até o final da tarde eu vejo o pastor passar o dia de terno e gravata, ora eles saem, acho que vão visitar alguém, depois voltam.
ResponderExcluirAcontece que eu normalmente uso o dia de domingo para descansar (e olha que tbm sou pastor) e fico na rede deitado, ora dormindo, ora lendo a Bíblia. Isso sem camisa, de chinelos e bermuda. Aqui faz um calorão! Passo um tempo brincando com minha filha de dois anos e meio, entre outras coisas.
Acontece que outro dia tava justamente pensando como o irmão, quase me senti culpado por passar o domingo obedecendo o mandamento do Senhor de descansar no que se tornou o nosso sétimo dia (não sou adventista) quando pensei: Ele é que deveria se sentir culpado por não entrar no descanso e ficar ali correndo de um lado para o outro "pagando o preço" que já foi pago há dois mil anos atrás.
Para o Anònimo acima, meu irmão, não existe "roupa" adequada para sermos Igreja, mas com certeza tem que haver algum tipo de regra de vestimenta para irmos ao templo. Talvez por isso que Jesus foi tão incisivo com os judeus dizendo que eles estavam invalidando a lei com suas tantas regras e tradições.
Abraços a todos
giuliano miotto
servo
http://vozdoqueclamananet.blogspot.com/