domingo, 8 de setembro de 2013

PREpara que a música ainda vai ficar pior

multishow13Melhor cantor do ano: Luan Santana
Melhor cantora do ano: Ivete Sangalo
Melhor videoclipe: “Show das Poderosas” (Anitta)
Música-chiclete: idem


Esse foi o resultado da votação popular do Prêmio Multishow 2013, que ainda premiou o Sorriso Maroto como Melhor Grupo. Veja que foi o voto popular que elegeu os melhores do ano. Como não é o caso de ficar falando mal do povo e do gosto popular, vamos pensar em algumas perguntas:


Quem é que está votando?


Não sei. Talvez seja o mesmo pessoal que votaria em “Crepúsculo” ou “Velozes e Furiosos trocentos” como melhor filme. Ou são os mesmos que acham que o humor da turma do Porta dos Fundos é a coisa mais inteligente e divertida que há.


Não havia concorrentes melhores?


Não. Luan Santana disputava o prêmio com Fiuk, Thiaguinho (que ganhou o prêmio de Melhor Música com “Buquê de Flores”) e o vocalista do NX Zero, enquanto o funk de Anitta concorria com representantes da fina flor da música brasileira, como “Camaro Amarelo” e “Gatinha Assanhada”.


Por que esses artistas foram considerados os melhores?


É provável que, em vez de analisar itens ultrapassados como refinamento de letra e inventividade melódica, os eleitores do Multishow valorizem mais certos fatores indispensáveis para uma canção, como: número de caras e bocas do cantor por frase cantada, profundidade do decote, capacidade de se aprender a coreografia, refrão com a onamatopeia mais maliciosa. Em resumo, está claro que qualidade musical tem outra definição nos dias de hoje.


Nossa música popular está em decadência?


A música brasileira não teve só Noel Rosa, Ary Barroso, Tom Jobim, Chico Buarque ou Gilberto Gil. Há 30 anos, Gretchen rebolava na TV ao som de “Conga la conga”, e se na época houvesse um prêmio de “música-chiclete” do ano, ela (ou Sidney Magal) venceria. Mas me parece que a música popular mais sofisticada perdeu o vigor e a música popular menos inteligente perdeu a vergonha.


A música pop estrangeira é melhor do que a brasileira?


Descontando o fato de que música ruim é sempre a dos outros, música ruim é música ruim em qualquer parte do mundo. Mas para um país que já exportou “Aquarela do Brasil”, “Tico-Tico no Fubá” e “Garota de Ipanema”, ver o mundo inteiro dançando “Ai se eu te pego” e o Bon Jovi cantando “Camaro Amarelo” é constrangedor. Ou pelo menos era pra ser constrangedor.


O que aconteceu com a música brasileira?


Talvez tenha ocorrido um processo de franco emburrecimento da pátria. Décadas atrás, músicos sem maior instrução escolar, como Adoniran Barbosa, Luiz Gonzaga e Tonico & Tinoco produziam bonitas canções. Hoje, são os cursos universitários que promovem festas à base de Naldo, Luan Santana, Sorriso Maroto e outros congêneres que rebaixaram tanto o nível que Reginaldo Rossi parece o Stevie Wonder perto deles.


Pior do que está não fica?


Ah, fica. Não é que esses artistas lancem produtos mal-acabados. E nem é correto avaliar uma canção popular com os critérios de avaliação de estruturas musicais diferentes, como a “música clássica”, por exemplo. Mas como tudo que está ruim sempre pode ficar pior, então, se PREpare!


 ***


 O autor é blogueiro do Nota na pauta, doutorando em musicologia.

2 comentários:

  1. "Talvez tenha ocorrido um processo de franco emburrecimento da pátria." Trágico!

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  2. A Arte de chocar ta acertando na mosca... ou melhor, naS moscaS!

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