Melhor cantor do ano: Luan Santana
Melhor cantora do ano: Ivete Sangalo
Melhor videoclipe: “Show das Poderosas” (Anitta)
Música-chiclete: idem
Esse foi o resultado da votação popular do Prêmio Multishow 2013, que ainda premiou o Sorriso Maroto como Melhor Grupo. Veja que foi o voto popular que elegeu os melhores do ano. Como não é o caso de ficar falando mal do povo e do gosto popular, vamos pensar em algumas perguntas:
Quem é que está votando?
Não sei. Talvez seja o mesmo pessoal que votaria em “Crepúsculo” ou “Velozes e Furiosos trocentos” como melhor filme. Ou são os mesmos que acham que o humor da turma do Porta dos Fundos é a coisa mais inteligente e divertida que há.
Não havia concorrentes melhores?
Não. Luan Santana disputava o prêmio com Fiuk, Thiaguinho (que ganhou o prêmio de Melhor Música com “Buquê de Flores”) e o vocalista do NX Zero, enquanto o funk de Anitta concorria com representantes da fina flor da música brasileira, como “Camaro Amarelo” e “Gatinha Assanhada”.
Por que esses artistas foram considerados os melhores?
É provável que, em vez de analisar itens ultrapassados como refinamento de letra e inventividade melódica, os eleitores do Multishow valorizem mais certos fatores indispensáveis para uma canção, como: número de caras e bocas do cantor por frase cantada, profundidade do decote, capacidade de se aprender a coreografia, refrão com a onamatopeia mais maliciosa. Em resumo, está claro que qualidade musical tem outra definição nos dias de hoje.
Nossa música popular está em decadência?
A música brasileira não teve só Noel Rosa, Ary Barroso, Tom Jobim, Chico Buarque ou Gilberto Gil. Há 30 anos, Gretchen rebolava na TV ao som de “Conga la conga”, e se na época houvesse um prêmio de “música-chiclete” do ano, ela (ou Sidney Magal) venceria. Mas me parece que a música popular mais sofisticada perdeu o vigor e a música popular menos inteligente perdeu a vergonha.
A música pop estrangeira é melhor do que a brasileira?
Descontando o fato de que música ruim é sempre a dos outros, música ruim é música ruim em qualquer parte do mundo. Mas para um país que já exportou “Aquarela do Brasil”, “Tico-Tico no Fubá” e “Garota de Ipanema”, ver o mundo inteiro dançando “Ai se eu te pego” e o Bon Jovi cantando “Camaro Amarelo” é constrangedor. Ou pelo menos era pra ser constrangedor.
O que aconteceu com a música brasileira?
Talvez tenha ocorrido um processo de franco emburrecimento da pátria. Décadas atrás, músicos sem maior instrução escolar, como Adoniran Barbosa, Luiz Gonzaga e Tonico & Tinoco produziam bonitas canções. Hoje, são os cursos universitários que promovem festas à base de Naldo, Luan Santana, Sorriso Maroto e outros congêneres que rebaixaram tanto o nível que Reginaldo Rossi parece o Stevie Wonder perto deles.
Pior do que está não fica?
Ah, fica. Não é que esses artistas lancem produtos mal-acabados. E nem é correto avaliar uma canção popular com os critérios de avaliação de estruturas musicais diferentes, como a “música clássica”, por exemplo. Mas como tudo que está ruim sempre pode ficar pior, então, se PREpare!
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O autor é blogueiro do Nota na pauta, doutorando em musicologia.
"Talvez tenha ocorrido um processo de franco emburrecimento da pátria." Trágico!
ResponderExcluirA Arte de chocar ta acertando na mosca... ou melhor, naS moscaS!
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