segunda-feira, 11 de abril de 2011

Igreja Evangélica Brasileira: uma descontextualização através da música

Com a legitimação da Indústria Cultural no meio evangélico e a implantação da marca “Gospel”, a igreja brasileira nos últimos anos tem sofrido uma forte descontextualização em relação a música. Verdades bíblicas têm se reduzidos a chavões religiosos, frases de efeito e melodias de rápida assimilação. Essa música inserida na lógica do concorrido mercado da música nacional, não só foge dos padrões brasileiros em termos sonoros, mas aparenta convergir com as mesmas engrenagens mercadológicas da música secular. A questão passeia por toda a comunidade evangélica brasileira: um verdadeiro nicho cultural de variadas vertentes.

Aqui trago rapidamente a nossa memória a histórica resistência por parte de algumas igrejas reformadas, relacionada à musicalidade intrinsecamente nacional, onde a preservação dos moldes europeus ainda persiste na forma de culto, na arquitetura, no uso apenas do órgão como verdadeiro instrumento sacro liturgia do culto. Para esta vertente, os instrumentos afro-brasileiros e sua música representam elementos de uma herança cultural pecaminosa, além de se tornarem uma ameaça às letras das canções as quais podem distrair o ouvinte do objetivo central que é entender a mensagem cantada para poder adorar a Deus. Definitivamente, esse tipo de visão nem chove nem molha para o mercado gospel, afinal nem para o Mercado nem para essas denominações a ideia de contextualizar é interessante.

Consta na história da música evangélica que foi a partir dos anos 1970 que aconteceram os primeiros registros de uma mentalidade musical nacional vinculada a um grupo de nome “Vencedores por Cristo” e outros grupos, no entanto essa projeção de brasilidade ainda hoje restrita a uma pequena porcentagem de manifestações evangélicas foi ofuscada fortemente na década de 90 quando o Mercado Gospel passou a ser o “levita” da grande maioria das igrejas no Brasil - não discuto se o mercado é bom ou mal, mas aponto sua postura unilateralmente importada.

Pesquisando a fundo sobre esse assunto, notamos também uma considerável ausência da musicalidade popular brasileira nos cultos religiosos das igrejas neopentecostais de médio e grande porte, cuja forma, mesmo apresentando indícios de sofisticação, traz uma linguagem descontextualizada em relação ao cosmo cultural, e uma sonoridade importada do gospel internacional (é comum ouvir vários Michael’s W. Smith, Hillsong’s em versão tupiniquim). O próprio termo “Música Gospel” surgido no início do século XX através das músicas religiosas dos negros nos Estados Unidos e que passou a ser utilizado no Brasil por volta da década de 90 por um determinado grupo, hoje não parece ter relação alguma com o seu significado contextual, aproximando-se mais de uma espécie de rótulo, marca ou produto demandado por um mercado evangélico (Gospel) para um grande público consumidor.

Diante da diversidade cultural da nossa Terra de Vera Cruz, ressoa a pergunta: por que o uso do baião, samba, frevo, bossa, maracatu, etc., é tratado com tanta desconfiança? Essa ausência nas igrejas é uma justificativa religiosa? Ou mera importunidade ocasionada pela lógica de consumo do mercado gospel?

Imaginamos que na nossa colonização “espiritual” não houve por parte dos missionários europeus e americanos simpatia com as músicas e danças aqui existentes, mas as coisas evoluíram né? Pois é, nessa área ainda não pois a atual “música gospel” do Brasil ainda é palco de uma descontextulização grave. Que essa realidade possa mudar, e que nossa nação possa vestir a própria roupa cultural e cantar: “Feliz a nação cujo Deus é o Senhor”!

Texto baseado no Projeto de Pesquisa “A Igreja Evangélica Brasileira: uma descontextualização através da música”. (Pós-Graduado em História Cultural)

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