quarta-feira, 6 de março de 2013

Músicos cristãos não podem receber cachê?

muisca e dinheiroNo começo deste ano, alguns blogs publicaram valores de cachês cobrados por músicos evangélicos. Mas os tais valores exorbitantes (como os supostos 250 mil reais cobrados pelo Ministério Diante do Trono) não se confirmaram, levando aqueles blogueiros a corrigir ou a deletar a postagem.


Descontando a falta de prova dos números, ficaram as perguntas: músicos cristãos podem cobrar cachê para se apresentar? Como autointitulados levitas, eles não podem ser artistas?


Vinde e arrazoemos:


1 – Os levitas da Bíblia eram especialistas que atendiam exclusivamente às atividades do templo e trabalhadores remunerados (será que alguém ousava criticá-los porque não serviam gratuitamente por amor à causa?) Nem sempre é válido comparar aquele contexto com os dias atuais. Por exemplo, os cantores de Davi ou a banda de Jedutum não saíam em turnê pela Palestina. Segundo as práticas da época, sua arte musical estava vinculada à funcionalidade litúrgica.


2 – Felizmente, há muitos músicos que servem às necessidades musicais da igreja voluntariamente. Há bem-aventurados que têm algumas perdas monetárias, mas testemunham seus ganhos espirituais. Ainda assim, músicos profissionais cristãos estão em seu legítimo direito ao pedir um cachê (nem que seja para cobrir as despesas de transporte e hospedagem). Eles não são advogados que, no fim de semana, vão tocar piano no culto. Cantores profissionais procuram viver de sua profissão como faz todo profissional.


3 – Quanto deve cobrar um artista cristão? Essa questão envolve oferta e demanda, mas mesmo a lei de mercado deveria submeter-se à modéstia cristã. O problema é quando quem contrata acha que só o cantor deve exercer tal virtude. Ou quando o cantor quer ajuntar para si tesouros na terra como se não houvesse céu.


4 – Muitos crentes, com sua habitual destreza em demonizar termos e expressões, condenam a palavra “arte”. Não por acaso, os cantores cristãos ainda temem ser chamados de artistas. Para muita gente, arte é sinônimo de exibicionismo e, portanto, um artista não seria simplesmente o sujeito que trabalha com a expressão artística, mas um showman.


5 – Sendo que os “ministros” e “levitas” foram ensinados a se envergonhar do termo “artista”, então eles dizem que têm um ministério. Só que alguns deles se empolgam e vão ministrar em cruzeiros, em rodeios, no carnaval, enfim, “aonde o vento do espírito [do capitalismo?] soprar”. Se se assumirem como artistas, ao menos vão parar de ter que responder sobre seu sucesso, já que serão artistas e pronto.


6 – Em geral, a igreja que contrata um irmão eletricista para consertar a fiação costuma remunerá-lo. Do mesmo modo, um cantor profissional que solicita um cachê pela apresentação não deveria ser visto como um aproveitador, ainda que existam aproveitadores em qualquer profissão e religião e que, por isso, as igrejas tenham que estar sempre atentas aos lobos cantando música de cordeiro.


7 – A música é encarada por boa parte da sociedade como um dom natural ou sobrenatural. Por isso, o músico não deveria receber dinheiro algum, já que seu talento teria vindo de graça. Nessa linha de pensamento, se um indivíduo diz que alguém se torna pastor por causa de vocação ou dom divino, então os pastores também deverão viver somente da luz do sol como se propõe aos músicos que vivam?


8 – Você percebe quando um levita é um artista pop enrustido quando ele só levita mesmo na hora de gritar “tira o pé do chão!!!”


9 – Nem todo aquele que canta “Senhor, Senhor” entrará no reino dos Céus. Mas se ele não tiver sido nem mesmo um bom artista, no dia do Juízo isso será o menor dos males.


Joêzer Mendonça é músico e faz doutorado em musicologia na Unesp. É autor do blog Nota na Pauta, onde escreve sobre arte, mídia e religião.


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Joêzer Mendonça é músico e faz doutorado em musicologia na Unesp. É autor do blog Nota na Pauta, onde escreve sobre arte, mídia e religião. Vi no Cristianismo Criativo.

9 comentários:

  1. Caro irmão Joezer, permita-me discordar da sua opinião, pois entendo que ninguém pode cobrar para fazer nada na Igreja, seja músico, pastor, presbítero, artista ou o que for.
    Vou lhe explicar melhor: sou advogado por profissão e sirvo um pequeno grupo de irmãos por vocação.
    Quando um cliente entra em meu escritório precisando de meus serviços, obviamente que eu vou cobrar por aquilo que adquiri com muito custo na faculdade e depois dela, depois de muito esforço e tendo em vista que sou um profissional do direito. Nada de absurdo que um profissional cobre pelos seus serviços.
    Agora, como ministros na Igreja não estamos "vendendo" ou "prestando" um serviço remunerado, estamos ali servindo ao Povo escolhido de Deus, não porque tenhamos algo em nós mesmos que valha a pena passar para a frente, mas porque de graça recebemos o presente da salvação apenas pela fé e não por causa de nossas obras. Talvez por isso é que está escrito: Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai. (Mateus 10:8)
    Outra coisa, o contexto da Igreja estabelecida por Jesus não tem nada a ver com o contexto do Templo e da Lei, Levitas etc. Existente no Antigo Testamento, figuras que são chamadas no Novo Testamento de apenas "sombras" do que haveria de ser revelado em Cristo.
    Particularmente acho um grande desrespeito ao Espírito da Graça um sujeito cobrar para tocar músicas cristãs, seja nos templos, estádios, ou onde for. Sobre este assunto, escrevi um artigo com o título de "EM COMO OS MINISTROS DE LOUVOR ROUBAM A GLÓRIA DE DEUS" (http://vozdoqueclamananet.blogspot.com.br/2012/07/como-musicos-e-ministros-de-louvor.html)

    No demais, o que diremos pois à essas coisas? Enquanto houver palcos nas "igrejas", sempre vai haver espaço para alguém se achar no direito de cobrar para compartilhar aquilo que recebeu como um dom de Deus.

    Mas aí o irmão poderá argumentar que também os músicos profissionais precisam estudar, trabalhar, investir em instrumentos e coisa e tal, mais ainda, que o obreiro é digno de seu salário... Bom, como o espaço é curto, penso que meu artigo expressa bem meu pensamento sobre tudo isso.

    Naquilo em que tiver sido omisso, por favor, não fique com raiva de mim, apenas me pergunte e poderei discorrer sobre a questão.

    Abraços fraternos em Cristo.

    Giuliano Miotto

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  2. Paulo largou tudo para servir a Deus, e não cobrava nada....
    Nada impede os musico " gospel" trabalhar com mesmo Paulo trabalhou fazendo rede...
    O que mais irrita e qdo o musico diz que esta música foi Deus lhe deu
    Se e de Deus não te pertence "gospel"
    QUE VOLTE OS HINÁRIOS

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  3. Respondendo ao Giuliano Mioto:
    Irmão, então novamente citando Mateus 10:8, e levando-se em consideração a primeira parte "Curais os enfermos", devemos entender que todos os médicos, enfermeiras, enfim todos da área de saúde que são Cristãos devem fazê-lo sem remuneração e esperar que Deus lhe alimente com maná do céu? Irmão, existem músicos profissionais (que dedicaram tanto tempo a música como você ao direito e por isso tem o direito de sobreviver de seu ofício) e tocadores que dedicam o seu hobby de maneira gratuita na igreja, porque se lá não estivessem estariam tocando nas mesas dos bares pela cerveja. Irmão profissional é profissional, sendo assim é melhor os pastores também irem procurar emprego e realizarem sua vocação de maneira gratuita. Não podemos ser tendenciosos. A escolha da profissão é uma coisa pessoal. Alguns escolheram a música como meio de sobrevivência, estudaram, se dedicaram, enfim fizeram da mesma forma que vc fez com o Direito. Caso contrário, é melhor viver o cristianismo verdadeiro exercendo a profissão de músico fora da igreja, sem qualquer preconceito ou remorso, e deixar que os hobbystas da arte musical tomem conta dos instrumentos na igreja. Assim, não haverá comentários destrutivos e todos viverão em "harmonia". É muito fácil falar do que não conhecemos..., difícil é nos pormos no lugar do próximo.

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  4. Irmão Sniper, leia meu artigo e medite sobre o assunto. Veja bem, um médico pode sim cobrar para curar os enfermos se o fizer em decorrência de sua "profissão" de médico, mas jamais poderá cobrar por uma cura feita em decorrência de sua "profissão" de fé em Cristo Jesus, do contrário ele será chamado de mercenário pela própria Palavra e, pior, vai encontrar o Cristo descrito em Mateus 7:21.
    Apenas para o conhecimento do irmão, já toquei inúmeras vezes nos templos, sempre de graça, já preguei, já servi e até hoje o faço, igualmente de graça e até passei um tempo cuidando de uma denominação recebendo um pequeno salário pela minha dedicação de tempo integral, sendo que neste tempo instalei meu escritório jurídico dentro do templo com o fim de servir melhor às pessoas do templo e ainda poder continuar fazendo minhas tendas, assim como Paulo, o Apóstolo.
    Volto a repetir e espero que o irmão me perdoe pela sinceridade desconcertante com que digo que todo aquele que cobra seja para tocar, pregar, curar ou o que seja, em nome do Senhor Jesus é porque não entende o seu chamado para servir e está roubando deliberadamente a glória que somente é devida ao Senhor.
    Dê-se por avisado e, no dia do Senhor, não venha dizer que não foi avisado ou repreendido pela Palavra.
    Abraços fraternos em Cristo

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  5. Jesus enviou estes doze, e lhes ordenou, dizendo: Não ireis pelo caminho dos gentios, nem entrareis em cidade de samaritanos;
    Mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel;
    E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus.
    Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai.
    Não possuais ouro, nem prata, nem cobre, em vossos cintos,
    Nem alforjes para o caminho, nem duas túnicas, nem alparcas, nem bordão; porque digno é o operário do seu alimento.
    Mateus 10:5-10
    Vejam que este texto é o mesmo contexto de Lucas 9:2, onde Jesus envia os seus discípulos e os determina que não levem nada consigo e nem se detenham com as coisas do mundo... Impossível ler esta passagem sem chegarmos à conclusão de que estamos fazendo tudo errado e bem diferente do que era no princípio e do que Jesus fez com seus discípulos... e ainda temos vários argumentos "teológicos" para nossos enganos. Deus tenha misericórdia de nós.

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  6. boa noite... gostaria de deixar uma pergunta para giuliano miotto. Giuliano, como vc se expressa, se deduz que devemos levar a palavra (Bíblia) ao pé da letra, então neste versiculo citado acima é para curar, limpar, ressucitar, expulsar, e transmitir o que de graça recebemos, de graça damos.... agora pensa comigo, o que recebemos de graça? sou músico, toco bateria, Deus me abençoou muito, aprendi a tocar precisei me esforçar também então concluo que Deus fez sua parte e continua fazendo e eu precisei fazer minha parte também através de aulas e exercícios. Na minha interpretação, o que recebemos de graça foi o Espírito Consolador, A salvação através de Jesus Cristo, e é isso que devemos "dar de graça" para as pessoas.
    Vou lhe dizer mais uma coisa sobre minha opinião, sem querer ofender ninguém, quando nossa banda toca em algum lugar fora pedimos ajuda da igreja onde vamos tocar com despesas de alimentaçao, hospedagem e deslocamento, com certeza não vamos em algum lugar para ganhar lucros, e tambem nao nos sentimos no direito de cobrar 250.000 mil ou sei la quanto porque nao levamos equipamentos como diante do trono ou thales roberto leva ou aluga. Mas te dou certeza que se o pastor que nos convida nao pode ajudar em nada, nós vamos la e damos oferta e nao pedimos nada de ajuda para o pastor... entao quero te dizer que existem varios tipos de ocasioes, sendo que nao eh a graça nem a salvaçao nem o Espirito Santo que estamos vendendo, nao estamos vendendo nada. talvez possamos ser julgados de homens de pouca fé, mas te digo que até hoje nao vi Deus derramar do céu gasolina dentro do tanque do carro, ou cair pao do céu, ou um apartamento, casa ou quarto para passar a noite... se Deus pedir sacrifício é outra conversa.. depende muito do que Deus fala ao coração dos músicos...
    obrigado e me perdoem se ofendi alguém.

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  7. Todo trabalhador é digno do seu salário... Só que na nossa cultura, músico não é visto como uma profissão... Ou até é, mas da boca pra fora... Aí geram-se estas discussões infrutíferas...

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  8. Um médico cristão pode receber por fazer uma cirurgia em um pastor?

    Um advogado cristão pode cobrar para defender um réu satanista?

    Sinceramente, não sei se saber isso, vai fazer diferença! Não edifica, não abala, não faz cócegas!!

    Cada um deve fazer conforme a sua consciência, bem como situação!
    Se ele é convidado para cantar num culto, numa igreja que esteja visitando, fica chato cobrar, mas se ele for contratado, o cachê é obviamente cobrado!
    Simples assim!

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  9. Gostaria de apontar a minha discordancia ao prezado irmao "Giuliano Miotto". Entendo que a música é tambem uma profissao, até porque existe faculdade de música e até mesmo sindicato de músicos. Nem vou entrar na questao dos instrumentos, que sao caros.

    O problema que vejo, é que a igreja nao quer permitir essa atividade como profissional. E acrescento que isso é uma questao cultural. Nos EUA, todos os músicos de igreja sao profissionais e vivem disso. Aqui no Brasil, muita gente ainda ve o trabalho musical como voluntariado, o que querendo ou nao, impacta na qualidade da música tambem. Penso que os dois sempre devem existir, o musico profissional e o voluntário. Na minha visao, cabe apenas à igreja a aceitar e respeitar esses trabalhadores.
    Para apimentar um pouco mais a questao, entendo que Mateus 10:8 é bastante fora desse contexto, primeiramente porque nem se fala de música e vou mais além, a Biblia nao trata o talento musical como dom espiritual. Ninguem nasce cantando / tocando, o talento geralmente está relacionando a uma aptidao natural, que é aprimorado com dedicacao e estudo, assim como diversas outras áreas.
    Importante notar que as profissoes como advogado, medico, administradores, musica entre outros, sao largamente realizados fora da igreja, já a profissao de pastorado nao.
    Por isso acho que as bolas acabam se misturando neste assunto.
    Abraços fraternos,
    Danilo Lima.

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