quinta-feira, 19 de abril de 2012

A arte de Lenine e a Cosmovisão Cristã [Graça Comum]

"Todas as coisas foram
criadas por ele e para ele".
(Colossenses 1.16b NVI)

Quando se escreve sobre artes em um veículo de leitura protestante, sem citar artistas do meio protestante, corre-se o risco de ser criticado por vários irmãos de fé. Estes se esquecem que Deus é soberano. Não sobre uma ou duas coisas, mas sobre todas as coisas. Não é possível ser cristão nos eventos eclesiásticos e possuir outro modo de vida no dia-a-dia da família, trabalho, educação, entretenimento.

Deus reina sobre tudo e, consequentemente, sobre toda arte. Quando traço um comentário sobre arte não-cristã, minha visão deve partir da “lente bíblica”, a chamada “cosmovisão cristã”. Não devo desviar meu olhar, como cristão, de coisas que julgo não “serem de Deus”. Tudo é passível de julgamento a partir da cosmovisão cristã, seja para críticas sobre aquilo que entendemos ser errado, seja para elogios necessários às obras e artistas.

A partir dessa leitura cristã posso admirar, por exemplo, canções cujas letras não trazem termos “evangélicos”, mas que possuem em seu cerne valores do Reino de Deus.

A crítica sobre poluição no mar de A Mancha, canção de Lenine e Lula Queiroga (gravada no CD Labiata, 2008) tem em si valores do Reino, sem necessariamente falar a palavra “Deus” e sem seus autores se declararem “músicos evangélicos”:


"A mancha vem comendo pela beira
O óleo já tomou a cabeceira do rio
E avança
A mancha que vazou do casco do navio
Colando as asas da ave praieira
A mancha vem vindo
Vem mais rápido que lancha
Afogando peixe, encalhando prancha
A mancha que mancha,
Que mancha de óleo e vergonha
Que mancha a jangada, que mancha a areia
Negra praia brasileira
Onde a morena gestante
Filha do pescador
Derrama lágrimas negras
Vigiando o horizonte
Esperando o seu amor"
Falta engajamento e liberdade dos artistas cristãos em relação a essa visão de mundo ecológica e que escrevam, pintem, cantem, dancem, atuem e explorem, enfim, a temática declarando: Deus é soberano sobre a natureza e devemos cuidar dela! Não só ecologia, mas falta adentrar com a arte cristã na política, economia, problemas sociais, história, saúde, entre tantos e tantos assuntos. Com algumas exceções, por vezes as letras das canções feitas por cristãos são extremamente alienantes e distantes da realidade contextual brasileira, o que não é, segundo uma cosmovisão cristã, algo correto.

Sejamos cristãos em qualquer situação, tempo e espaço, como Cristo nos ensinou. Coerência é fundamental em nossos passos. Caminhemos.

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Sérgio Pereira é músico, historiador, educador, escritor e revisor pedagógico do Sistema Mackenzie de Ensino. Mestrando em Educação Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Faz parte do duo musical Baixo e Voz. Fonte: Ultimato

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