Por Danielly Melo Alves
Hoje, 11 de abril de 2012, o STF (Supremo Tribunal Federal) iniciou o julgamento da ADPF 54. Primeiro, cabe ‘dessiglalizar’ ‘ADPF’. ADPF significa Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. De maneira bastante sucinta, podemos dizer que ADPF é uma espécie de ação constitucional que visa reparar ou evitar danos a preceitos constitucionais cometidos por atos do Poder Público.
Na ADPF 54, a Confederação Nacional dos Trabalhadores de Saúde afirma que a antecipação terapêutica (aborto) de fetos anencefálicos não constitui crime. Tal ação está sendo julgada pelo Plenário do Guardião da Constituição. O julgamento fora interrompido hoje com 4x1 votos a favor da tese do argüente.
Aborto sempre é um tema polêmico. Eu até queria escrever sobre isto. E assim o farei em breve. Mas, hoje, com toda essa turbulência social, posso afirmar que algo me incomoda mais do que a ADPF 54: a inversão de valores que se instaurou na sociedade atual.
Alguém então pode esbravejar (e com razão): “Como você que se intitula cristã pode se importar mais com qualquer outra coisa do que a permissão do aborto prestes a acontecer?”
Pois é. Importo-me mais com a inversão de valores porque acredito que é em virtude desta inversão que hoje podemos ver o aborto sendo permitido, o casamento homossexual sendo permitido, as famílias sendo desfalecidas e o cristianismo sendo visto como o vilão e grande empecilho para vivermos em uma sociedade ‘politicamente correta’.
O politicamente correto está na moda. O respeito às minorias é pregado como uma verdade absoluta. E eu até concordo, sabia?! Concordo com o respeito absoluto às minorias! Sim, devemos respeitar absolutamente os homossexuais! Devemos respeitar e lutar pela concretização dos direitos dos deficientes físicos e mentais! Devemos respeitar os ateus! Devemos respeitar o direito dos animais! Sim, nós devemos!
Mas, será que o respeito deve ser interpretado como ausência de críticas? Será que respeito é aceitar como certo o que é crido pelo outro?

Bom, mas não é exatamente sobre isto que me proponho a falar, é também sobre isto. É que a inversão de valores nos leva a esta falácia. A falácia de que para respeitarmos as minorias somos obrigados a nos abster de criticá-las.
O que me parece hoje é que as minorias detêm verdadeiros super poderes, ou melhor, verdadeiros super direitos. E vejo isto como uma conseqüência da inversão de valores. O menor tem direito de dizer que o maior está errado, mas o maior tem o dever de ficar calado e aceitar como certo o que o menor afirma. Estranho isto, não?
Como jurista, sinto um temor quanto à manipulação do Direito permitindo a tutela jurídica para determinadas conseqüências da inversão de valores.
Permita-me tentar ser mais clara. Na tentativa de andar do lado do ‘politicamente correto’ e aplicar a justiça perante a sociedade, o Direito, e aqui me refiro ao Poder Judiciário, tem usurpado algumas funções de outros Poderes, tais como o Legislativo, e tem decidido sobre assuntos que não lhe caberia decidir, pois diz respeito aos conceitos culturais e morais de toda uma sociedade.
Lembro-me das minhas aulas de filosofia jurídica, quando meu professor trazia como função do Direito o apaziguamento de conflitos. Se o Direito serve para apaziguar conflitos, logo, sua aplicação no caso concreto assim deve ser: apaziguamento do litigo nascido naquele caso específico.
Porém, com o intuito de obedecer ao ‘politicamente correto’ ou de dar uma resposta positiva as minorias, como se isto fosse a concretização do ‘respeitar as minorias’, o Judiciário, tem gerado mais conflitos do que apaziguado-os. Assim o é a partir do momento em que ele decide sobre uma temática, fundamentando sua decisão com os argumentos pregados pelas minorias. Ora, as minorias estão satisfeitas, mas e as maiorias, como ficam?
E antes que digam que eu não quero que as minorias tenham direito, me defendo dizendo que isto não procede. Quero sim! Ou melhor, a questão não é o que eu quero, mas é que de fato elas têm, graças a Deus por isto! Porém, em uma democracia, jamais, a maioria deve ser “deixada de lado” em detrimento da minoria.

Uma coisa eu sei: no mínimo, não me sinto confortável com esta inversão de valores do e no Direito!
Que Deus nos abençoe!
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Danielly Melo Alves é Advogada militante, pós-graduanda em Prática Judicante e em Gestão Pública Municipal. Frequenta a IPB, mas é, principalmente, cristã, pela graça do Soberano Deus!
sabias palavras ...
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