sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A fé "cartólica"

cartola1Nestes últimos anos tenho sido impactado de modo intenso pela obra musical do grande Cartola. Há em suas canções sinais claros da graça de Deus, reflexos de amor, esperança e fé.


A fé “cartólica” (o trocadilho foi inevitável) não é mero adereço da canção, nem imposição de mercado. Aliás, esse poeta apenas tardiamente (aos 65 anos) pode registrar sua arte em forma de disco. A espiritualidade expressa em suas canções é profunda e consistente.


Entre os mais diversos temas presentes na obra de Cartola, o que mais se sobressai é o da esperança. Ela está nos títulos, nas letras e até mesmo nos ritmos e arranjos das canções.


Títulos como “O sol nascerá”, “Alvorada”, “Corra e olhe o céu”, “A canção que chegou”, “Grande Deus”, “A cor da esperança” e “Alegria”, por exemplo, assinalam claramente um desejo de esperança, apesar das dores do mundo, apesar das frustrações da vida e dos desencontros todos.


Para Cartola, a esperança redime a vida de seu vazio, celebra o encontro e se concretiza como seu bem mais precioso: “Espero ainda que a festa do adeus seja a festa da vinda”. Por isso ele canta tão intensamente: “A tristeza vai transformar-se em alegria e o sol vai brilhar no céu de um novo dia”. É a esperança de que a tempestade ou a escuridão da noite terá um fim, de que o sol finalmente nascerá. Essa esperança nasce no morro junto com a alvorada e redime a humanidade de séculos de pobreza e abandono.


Em “A canção que chegou”, Cartola expressa de modo claro os traços da esperança: “Na manhã que nascia encontrei / O que na noite tardia desejei”. Há aqui inconfundíveis conexões com a canção do salmista quando afirma que “a tristeza pode durar uma noite inteira, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30.5). Mais adiante, o poeta testemunha que as lembranças do passado, os falsos amigos e as batalhas perdidas “quase [lhe] roubam a esperança e a fé”, mas é a presença redentora de Deus que transforma sua tristeza em alegria.


Não há segredo; a esperança da canção se apresenta como explicitamente cristã quando o poeta afirma que canta “a felicidade que Jesus mandou” e que se volta “contente cantando pra Deus que tanto [lhe] ajudou”. Em tempos sombrios de crises mundiais, conflitos sociais e tragédias pessoais, Cartola supera a tristeza pela força da esperança e transforma lamento em ação de graças.


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O texto é de Gladir Cabral. Ele é pastor, músico e professor de letras na Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc). Em 2011 tivemos a oportunidade de entrevistá-lo, clique AQUI e veja.


(Fonte: Ultimato, via Cristianismo Criativo.)

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