quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Marcos Almeida, o movimento gospel e a arte no mundo

Por Antognoni Misael

Desde a primeira vez que ouvi Marcos Almeida logo percebi que ele não cabia dentro do movimento gospel. Ficava a incógnita em saber como um artista que surgira no palco evangélico citando Keith Green, Rookmaaker, Sartre, Rembrandt e cantando profeticamente “Todos estão surdos” (do Roberto Carlos) se comportaria no desdobrar do tempo perante este segmento. 

Atualmente ficou mais do que claro que o Marcos Almeida está à frente da música gospel. A frente porque entendeu assim como Rookmaaker que “as coisas têm valor por aquilo que são, e não pelas funções que exercem, por mais que estas sejam importantes.” É muito parecido com o conceito de arte de Francis Shaeffer, o qual propõe a arte pela arte, e tendo a mesma como uma dádiva de Deus, faz com que não se rotule o que é essencial, não se “guetifique” o que é livre, e enfim, com que ela não se reduza aos mecanismos de mercado, e ao fim, apenas publicitário e evangelístico. 
“Existe uma outra forma de enxergar a fé, a espiritualidade e a arte no Brasil – e não necessariamente tem uma direção para o consumo interno da igreja (...) pra tocar no culto ou pra fazer um entretenimento religioso. Mas é profundamente cristã, profundamente relacionado com a fé, mas usa outras linguagens. Usa uma linguagem mais poética, não só isso, usa o português (...) e não em (o) ‘evangeliquês’ ”. [Marcos Almeida]
É indispensável compreendermos que devemos usar nossos talentos para a glória daquele que nos presenteou (1Co 10.31). Rookmaaker vem nos dizer que o convite para arte é um chamado aos artistas, artesãos e músicos para que estes esmerem-se no ofício em que foram chamados; que estes chorem, orem, pensem e trabalhem na arte e por ela. Para ele, qualquer discussão sobre o papel dela deve ser precedida por uma afirmação básica: “a arte não precisa de justificativa” — nem por motivos religiosos ou propósitos evangelísticos, nem por fins econômicos ou políticos. A arte é livre e deve ter sua premissa básica de que é um reflexo pleno da criatividade do Criador!

O que temos presenciado nos dias de hoje é um fenômeno de mero mercado com autenticação gospel - é o genérico comercial do “mundo”. Vemos muitos do movimento gospel portando-se como sumos sacerdotes da cultura — os nossos gurus —, ou como celebridades e bobos da corte. Desta forma, como esperaremos uma arte de valor eterno com a versatilidade de temas e validades do nosso tempo atual, quando na verdade o que determina o “sucesso ministerial” é a adesão à um modismo ou a rendição a um apelo comercial?
“Então a fé ela não é um colar que você coloca assim (...) um artefato pra te deixar um pouco mais bonito, pra te tornar mais agradável para um mercado religioso. A fé pra gente é um começo; é aquilo que trabalha lá no coração e ensina a gente a olhar o mundo diferente.” [Marcos Almeida] 
Nesta roda viva é como se a música gospel não parasse de encher sua botija de ouro, contudo, sempre querendo dar justificativas de que o que faz é de Deus apenas por carregar o nome “Cristo” ou “Deus”.

Presumo então que fazer música cristã não significa necessariamente produzir uma música com mensagem bíblica explícita ou com uma experiência de vida, fé ou ato piedoso. A “Paixão de São Mateus”, de Bach, é cristã, os “Concertos de Brandenburgo” o são. Logo, não são apenas as letras das cantatas que são cristãs, mas também toda instrumentação e toda diversidade de temas oportunos. Do contrário, estaremos reduzindo o cristianismo e excluindo do comprometimento com Deus uma grande parte de nossa vida, que deve manifestar o fruto do Espírito.

Que a arte seja a nossa expressão do Cristo todo, da vida toda, para que a vida toda seja compreendida através do Cristo em tudo!

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Antognoni Misael, editor do Arte de Chocar.

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