A pós-modernidade legou as sociedades o caráter da descentralização, relativização da verdade, e a fragmentação segmentária de grupos e ideias. Nos dias de hoje, é normal ser, por exemplo, paraibano mas, culturalmente holandês. O não-lugar, o conflito de pensamentos, os gostos, afetos, e influências, fazem com que um espaço comum haja a celebração móvel da diferença entre crenças, culturas e classes sociais.
Respeitável público, falando-se de Brasil, no mundo chamado Cristão, as fragmentações ocorrem a nível global e afetam incisivamente a igreja evangélica no Brasil. A confusão teológica reina entre as “noivas” de Cristo, e mais que isso, ela mescla-se com heresias, esquisitices e tradição.
Observando esta colossal fragmentação - e não confundam, não tem nada a ver com a graça multiforme de Deus – trago uma situação conflitante, possível de ocorrer frequentemente na maioria das igrejas brasileiras, inclusive as tradicionais e reformadas.
Imaginemos uma igreja de tradição reformada, cuja teologia preza pela centralidade do culto, pela doutrina da Graça e eleição cuja Palavra é tratada como única fonte de revelação divina. Porém, por não ter controle sobre a “Tsunami Gospel” do modismo é afetada numa das áreas de mais destaque no culto: a música.
O pastor ora, conduz a igreja a um momento de confissão de pecados, em seguida ler Efésios 2, e convoca a igreja a adorar em Espírito e em Verdade a Deus através de cânticos espirituais, dando oportunidade ao Grupo de louvor, então, logo começa a guerra e o teatro. Guerra, por que talvez ele nem imagine o que em poucos minutos o culto tornar-se-á um “batalha espiritual”; teatro, porque a poeira do palco certamente irá subir.
- Boa noite igreja! Diz o irmãozinho que se considera Letiva.
- Quem tem Jesus dê um brado de vitória!
- Pisa! Pisa na cabeça do inimigo, Igreja! Jesus quer ver você louvando, “Pule na presença do Rei”!
... o trem desce de ladeira abaixo. E quando a poeira desce, começa a “Sessão Mantra”.
Canções tipo: “Entra na minha casa”, “Mestre eu preciso de um milagre”, “Hoje o meu milagre vai chegar”, “Eu quero de volta o que é meu”, terminam por declarar que a guerra na verdade é entre Deus é o Homem.
Após tal momento antropocêntrico, o querido pastor volta ao púlpito – ou feroz, ou desiludido – e pensa consigo: “mais um culto fragmentado, que Deus tenha misericórdia”!
Sinceramente, não sei como alguns pastores têm agido diante disso. Não sei se a desculpa pousa numa suposta escassez de repertório, coisa que não é.
Enfim, acredito que a solução é muita overdose de Bíblia, conhecimento teológico, equilíbrio entre fórmula e conteúdo, e acima de tudo, temor a Deus. Caso contrário, a identidade e coesão das igrejas locais se diluirão, o teatro continuará e a fragmentação fará da igreja um mosaico de místico entre Deus e os vexames humanos.
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